São Paulo, sábado, 27 de abril de 1996
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Delegado diz trabalhar de "porta aberta"

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

O delegado titular do 15º DP, João Lopes Filho, negou ontem que policiais do seu distrito tenham torturado Luís Cesar Scwinzekel.
"Aqui nós trabalhamos de portas abertas e não praticamos violência nenhuma. Esse rapaz está sendo instruído pelas pessoas responsáveis pelo derrame de notas falsas no mercado a dizer essas coisas", afirmou o delegado.
"Muito me estranha o fato de esse casal morar na zona leste, próximo ao shopping Aricanduva, e se deslocar até Moema para fazer compras no shopping Ibirapuera à noite, em horário próximo ao fechamento das lojas", disse.
Ele afirmou que a garota T.A. não ficou presa, "apenas aguardou a realização do flagrante em uma sala específica".
Lopes Filho disse que o rapaz foi levado a uma cela forte para "preservar a sua integridade física". "Ele é jovem e, se fosse levado à carceragem comum, poderia ser molestado por outros presos", contou.
Homicidas
O delegado titular do 15º DP disse que transferiu o rapaz para o 14º DP, em Pinheiros (zona oeste), porque no distrito que administra são mantidos apenas assaltantes e homicidas.
"Eu só pensava que não queria mais viver enquanto estava sendo torturado. Queria que aquilo acabasse logo e que Deus me levasse. Naquele dia eu pude ver o que está por trás das delegacias. Na verdade, elas escondem uma máfia de criminosos credenciados, que batem e matam em nome da lei", afirmou Scwinzekel.
O rapaz contou sua versão da violência à Ouvidoria da Polícia de São Paulo e à Corregedoria da Polícia Civil. "Não me importo em fazer o reconhecimento dos policiais que me agrediram. Não tenho medo de represálias", disse.
Scwinzekel disse que na sala onde teria sido torturado havia seis policiais e que eles repetiam que ele ia se arrepender por não contar quem havia conseguido o dinheiro falso.
"Depois que eles me bateram, eu desmaiei. Quando acordei, mandaram-me levantar e voltar para a cela. Não tinha forças, mesmo assim eles me empurravam e diziam para eu andar", contou o rapaz.
"Esse é mais um caso de denúncia de tortura no país, que vem reforçar a necessidade de esse ser incluído no Código de Processo Penal brasileiro", afirmou o ouvidor da polícia de São Paulo, Benedito Domingos Mariano.
Ele disse que a Ouvidoria acompanhará o trabalho da corregedoria. "Somente depois que o inquérito na corregedoria for concluído poderemos falar com precisão o que realmente se passou com o jovem no 15º DP", afirmou Mariano.

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