São Paulo, sábado, 27 de abril de 1996
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Deficiente consegue casar na igreja

SILVIA DE MOURA
DA AGÊNCIA FOLHA

Edir Antônio de Brito, 44, proibido de casar na Igreja Católica Apostólica Romana por causa de sua deficiência, casa-se hoje, por outra igreja, com Elzimar de Lourdes Serafim, 26, no mesmo dia em que os dois haviam planejado.
As leis da Igreja Católica Apostólica Romana proibindo o casamento foram insuficientes para conter a vontade do casal.
A cerimônia será realizada por um padre da Igreja Católica Apostólica Brasileira.
Brito é paraplégico desde os 15 anos de idade, quando, em uma briga com um vizinho, levou um tiro na coluna.
Sua deficiência física foi apontada pelo bispo de Patos de Minas (MG), dom João Bosco Óliver de Faria, como motivo para a proibição do casamento.
O casal recebeu a notificação proibindo o casamento em 21 de março, 37 dias antes da data marcada para a cerimônia. "Nós já tínhamos feito o curso de noivos, pago a igreja e distribuído os convites", disse Brito.
'Morar junto'
"A Elzimar é muito religiosa e não aceita a idéia de simplesmente morar junto", afirmou Brito.
O casal se conheceu quando ela foi trabalhar como camareira em um hotel da família de Brito, há cerca de um ano e meio.
"Durante esse tempo, fomos convivendo, fomos conservando, ela passou a cuidar de mim. A idéia do casamento partiu dela", disse Brito.
Elzimar é viúva e tem dois filhos -uma menina de 7 anos e um menino de 5.
Ela não trabalha mais no hotel e apenas cuida de sua nova casa e dos filhos.
Ele acredita que haja meios de Brito e Elzimar se completarem fisicamente, "porque o que Deus une espiritualmente -e enquanto houver amor-, o homem não separa".
Um empresário paulista foi quem presenteou Elzimar com o vestido de noiva.
O casamenvaiirá acontecer às 14h em um clube de campo de Patrocínio (MG), cidade onde o casal vive.
"Nós estávamos programando uma festa para aproximadamente 150 pessoas, se a recepção fosse aqui em casa, mas o apoio moral que a gente teve em Patrocínio foi muito grande e resolvemos deixar os portões do clube abertos para que todo as pessoas da cidade possam participar da cerimônia", afirmou Brito.
Quando completarem um ano de casados, Brito (que trabalha como supervisor do posto telefônico da cidade) e Elzimar pretendem adotar uma criança.
"Nós poderíamos recorrer a inseminação artificial, mas existem tantas crianças precisando de um lar que optamos pela adoção", disse Brito.

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