São Paulo, sábado, 27 de abril de 1996
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Chama olímpica inicia rota perigosa

ANDRÉ FONTENELLE
ENVIADO ESPECIAL A ATLANTA

A chama olímpica inicia hoje nos EUA seu percurso mais polêmico e mais perigoso. Preocupações com segurança marcam o trajeto de mais de 24 mil quiômetros, o mais longo da história dos Jogos.
Ela chega hoje ao aeroporto de Los Angeles proveniente de Atenas, após ter percorrido todas as cidades fora dos EUA que já abrigaram a Olimpíada.
Antes mesmo de começar, o trajeto já sofreu alterações para se tornar "politicamente correto", a pedido de grupos homossexuais e de "americanos nativos" (índios e seus descendentes).
O temor de um atentado terrorista começou já em Atenas. O aeroporto local foi considerado inseguro pelo comitê organizador, que obteve um reforço no esquema de proteção da chama.
Disfarce
Nos EUA, um grupo de 44 homens se revezará em turnos acompanhando a tocha.
Eles foram treinados pelo serviço secreto norte-americano para escoltar a chama como se fosse um chefe de Estado. Alguns policiais estarão disfarçados de participantes do revezamento.
O percurso sofreu algumas alterações de última hora para atender a protestos específicos.
A principal delas ocorreu na periferia de Atlanta: será evitado Cobb County, subúrbio cujas autoridades, há três anos, aprovaram uma resolução condenando o "modo de vida homossexual".
Desde então, grupos de defesa dos homossexuais -do influente Act-Up ao minúsculo Lesbian Avengers (Vingadoras Lésbicas)- vêm tentando banir a cidade da Olimpíada.
Obtiveram duas vitórias: tiraram de Cobb o direito de abrigar partidas de vôlei nos Jogos e, na semana passada, conseguiram do comitê organizador que eliminasse Cobb do percurso da tocha.
"Se líbios e cubanos podem participar dos Jogos, não entendo por que os moradores de Cobb County não", protestou o deputado conservador Newt Gingrich, presidente da Câmara dos Representantes dos EUA e eleito por Cobb.
Em Oklahoma, outra polêmica: os organizadores esqueceram a cidade de Prague, terra do índio Jim Thorpe (1888-1953), um dos maiores heróis olímpicos dos EUA. Seus descendentes obtiveram a mudança do traçado.
Heróis
O primeiro a carregar a tocha nos EUA deverá ser o ex-decatleta Rafer Johnson, que acendeu a pira olímpica de Los Angeles-84.
Os 10 mil participantes estão sendo selecionados de formas variadas. O Comitê Organizador escolheu 5.500 "heróis comunitários" nas cidades do trajeto.
Outros 2.500 serão indicados pela Coca-Cola, nos EUA e em outros países, inclusive o Brasil. Os demais são ex-atletas ou dirigentes ligados aos Jogos.
Entre as personalidades que carregarão a tocha, estão o ex-presidente Jimmy Carter e o jogador de basquete Shaquille O'Neal.
Local e horário exatos em que vão receber a chama são mantidos em sigilo pela organização.

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