São Paulo, sábado, 27 de abril de 1996
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JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

Uma das poucas maneiras de se entender meio segundo é assistindo a um treino de F-1. O método usual, olhar no relógio, nos levaria a uma única certeza: é quase nada.
Mas meio segundo é o que separa o líder do Mundial, Damon Hill, de seu maior perseguidor, Michael Schumacher.
Meio segundo obtido graças a um equipamento avançadíssimo, que no universo esportivo só deve perder em custo para alguns dos veleiros da America's Cup.
Meio segundo que custa à Renault cerca de US$ 100 milhões por temporada. Que dá à Williams o status de melhor time da F-1 (leia-se uma montanha de patrocínio).
Meio segundo que deixa Hill, um piloto limitado, em condições de bater recordes e de ser campeão.
Que deixa a Ferrari em crise. Que faz Schumacher se resignar. E que torna o campeonato uma disputa por segundo e terceiro lugares.
Meio segundo que não será derrotado tão cedo, se levarmos em conta que a corrida tecnológica da F-1 se comporta como uma progressão geométrica.
Uma fronteira de tempo e espaço que significa nada e tudo simultaneamente.
Meio segundo que pode não ser eterno, mas infinito enquanto dure.
Que pode cair por terra, quem sabe, também em meio segundo. Um erro, uma peça quebrada, um azar, como muitos gostam de classificar.
Mas que não alteraria a verdade dos fatos. Apenas retardaria suas consequências.
Meio segundo que separa campeões de medíocres, não necessariamente nessa ordem. Que faz atletas olímpicos se doparem. Que pode definir um jogo de basquete.
Uma escala que, graças ao cronômetro, sustenta o esporte. E só é perceptível no replay, em câmera lenta. Ou nem isso.
Meio segundo, que é tão pouco, mas foi o suficiente.

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