São Paulo, sábado, 27 de abril de 1996
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"Velox" privilegia plano aeróbico a poético

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O espetáculo "Velox", que Deborah Colker e seu grupo apresentam até amanhã no Teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, tel. 288-0136), é um bom começo na carreira da coreógrafa, que se lançou com "Vulcão", em 1994.
Nas duas obras que produziu até agora, Colker demonstra boa percepção da totalidade cênica. Cercando-se de bons colaboradores, como o cenógrafo Gringo Cardia, responsável pela apurada ambientação de "Velox", ela consegue juntar ingredientes que resultam na manifestação espetacular.
Apesar dos resquícios de show, que pendem mais para a exibição do que a interpretação, nota-se significativos avanços entre "Vulcão" e "Velox". Embora também com bom acabamento cênico, a primeira peça incomodava pelas apropriações de várias "marcas" da dança moderna -desde sequências de "Nine Sinatra Songs", da norte-americana Twyla Tharp, até as piruetas com o corpo na posição horizontal, do grupo canadense La La La Human Steps.
Em "Velox", ao contrário, já se percebe uma proposta de aprofundamento da coreógrafa, que entre outras fontes, pesquisou filmes antigos sobre o estudo do movimento e do corpo em situações de competição física.
Fascinada por esportes, Colker explora a coreografia inerente ou possível dos jogos e atividades físicas. Sai-se bem no início do espetáculo, quando mostra a mecânica básica dos movimentos, e melhor ainda no trecho sobre alpinismo.
Dando preferência à plasticidade visual e ao caráter energético da dança, Colker promete se firmar como coreógrafa avessa a cerebralismos. Nada de mais, se ela se livrar da linearidade ainda presente em seus espetáculos.
Explorar o universo físico da dança pode render surpresas criativas, desde que a coreógrafa considere, em obras futuras, o vôo metafísico, já que "Velox" ainda está mais no plano aeróbico do que poético.

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