São Paulo, sábado, 27 de abril de 1996 |
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Hizbollah pode atacar em dois dias
ROBERT FISK
A informação foi dada por fontes próximas aos guerrilheiros. O Hizbollah deve tentar vingar o ataque israelense contra a base da ONU em Qana, há nove dias, quando 101 pessoas foram mortas. O acordo permite que os israelenses mantenham a ocupação no Líbano e só proíbe que os guerrilheiros usem civis como escudo em seus ataques e atirem Katiuchas contra Israel. Desta forma, os termos do documento assinado entre EUA, Síria, Israel e Líbano deixam o Hizbollah livre para continuar atacando as tropas israelenses que ocupam o sul do Líbano. Considerando-se o tipo de confronto que ocorre no sul do Líbano, deve ser apenas uma questão de tempo até que a artilharia israelense ou os Katiuchas do Hizbollah atinjam novamente alvos civis e as hostilidades voltem a aumentar. Mesmo os 4.500 soldados das Nações Unidas, que têm tido que assistir sucessivas mortes e que tiveram suas instalações em Qana bombardeadas por Israel, não sabem bem que papel vão desempenhar a partir de agora no monitoramento do conflito. O cessar-fogo acertado é basicamente uma versão escrita do acordo informal travado em 1993 entre o Hizbollah e Israel, que determinava a não-agressão a alvos civis dos dois lados. Nos últimos meses, as violações vinham aumentando e culminaram no bombardeio de Katiuchas contra o norte israelense e na ofensiva no Líbano. Omissão O documento não faz qualquer referência à resolução 425 do Conselho de Segurança da ONU, que exige a retirada das tropas israelenses do sul do Líbano. A exigência de Israel de que o Hizbollah seja desarmado também foi ignorada. Na verdade, o conflito no sul do Líbano voltou à situação de um mês atrás. Um dos poucos avanços foi o compromisso de que não haverá mais ataques contra a infra-estrutura do Líbano. A aviação israelense destruiu represas e centrais elétricas libanesas durante a ofensiva, atrapalhando os esforços de reconstrução do país após a guerra civil. EUA, França, Rússia e União Européia criaram um grupo consultivo para auxiliar na reconstrução de áreas do sul do Líbano atingidas pelos bombardeios de Israel. O governo francês já enviou ao país geradores para consertar a usina elétrica de Bselim, destruída deliberadamente pela aviação israelense na primeira semana do conflito. Outro ponto positivo do cessar-fogo é permitir que mais de 300 mil libaneses que fugiram dos bombardeios israelenses voltem para casa, e que outros milhares de israelenses do norte do país façam o mesmo. Hizbollah O Hizbollah não participou das negociação da trégua, mas manteve-se informado durante as conversações pelo presidente da Síria, Hafez al Assad. Saied Hassan Nasrallah, líder do Hizbollah, estava na entrevista coletiva em que o chanceler sírio, Farouk al Chara, anunciou o cessar-fogo em Damasco. A Síria vai cuidar para que os guerrilheiros obedeçam o acordo. O presidente do Líbano, Rafik al Hariri, garante que o poder de fogo do Hizbollah não foi abalado pela ofensiva israelense. LEIA MAIS sobre o Líbano à pág. 14 Texto Anterior: Empresário irlandês compra jóia de Jackie; Guerrilheiros tomam povoado na Colômbia; Partido de Çiller diz que fica na coalizão; Carro-bomba explode em San Salvador Próximo Texto: CRONOLOGIA Índice |
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