São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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Proposta pune cidade que investe mais

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A principal proposta do governo FHC para o ensino de primeiro grau pode punir cidades que já pagam salários mais altos para professores.
Além disso, evidencia um descomprometimento da União em relação a investimentos diretos para erradicação do analfabetismo.
A proposta de emenda constitucional (PEC) 233, do ano passado, está para ser votada nesta semana pelo plenário da Câmara.
Festejada por analistas de direita e de esquerda, a proposta do governo determina uma vinculação dos recursos da União, Estados, Distrito Federal e municípios à educação de primeiro grau.
Hoje, essa vinculação não existe. As cidades e os Estados são obrigados apenas a gastar, pelo menos, 25% das receitas na "manutenção e desenvolvimento do ensino".
Se aprovada a proposta, Estados e municípios passam a gastar diretamente só 10% da receita na educação. Outros 15% vão para um fundo a ser criado em cada Estado.
O dinheiro desses fundos será distribuído equanimemente para todo município que tiver escolas de primeiro grau e para as escolas do Estado correspondente, de acordo com o número de alunos.
É nessa distribuição que alguns municípios podem ficar com menos dinheiro do que têm hoje.
Prefeitos que fazem um esforço de arrecadação e já pagam melhores salários a seus professores terão de compartilhar 15% de suas receitas com cidades mais pobres.
Equalização
Um dos objetivos do fundo é equalizar a divisão do dinheiro. O governo estima que essa estratégia permitirá um investimento médio de R$ 300 por ano por aluno.
Além disso, os salários médios dos professores em todo o país subiriam para R$ 300. São números estimados e que podem mudar. O governo não tem cálculos exatos sobre o que vai acontecer.
O argumento principal para defesa da mudança é que a Constituição passará a priorizar o ensino de primeiro grau, vinculando receitas. O valor total do fundo a ser criado é de R$ 12 bilhões.
Esse dinheiro já é gasto atualmente. Mas de forma dispersa.
Uma das possíveis vantagens do fundo é incentivar a municipalização do ensino. Cidades que não têm escolas podem virtualmente perder 15% de suas receitas.
O Estado de São Paulo é um exemplo. Das 625 cidades, 557 não têm escola municipal.
Ainda que não tenham escolas de primeiro grau, os prefeitos desses 557 municípios paulistas estão obrigados hoje a gastar 25% de suas receitas com educação.
O dinheiro vai para pavimentação de ruas próximas a escolas estaduais, para creches ou para transporte escolar.
Com o fundo idealizado pelo governo, esses prefeitos ficam com os 10% obrigatórios para investir em educação -mas repassam 15% ao Estado e outras cidades.
Isso equalizará as despesas com educação. O dinheiro irá para os locais onde há escolas.
Analfabetismo
Na emenda constitucional, o governo também reduz o percentual que gasta com programas para erradicar o analfabetismo no país.
Hoje, a Constituição recomenda gasto de 50% do dinheiro destinado à educação para esse fim.
Se aprovada, a emenda obrigará a União a gastar no mínimo 30%.
Em 95, o governo empregou R$ 75,7 mil contra o analfabetismo. Neste ano, o Orçamento só previa R$ 60 mil. O Congresso elevou o valor para R$ 10,6 milhões.

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