São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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De olho na balança

CELSO PINTO
DE OLHO NA BALANÇA

O mercado espera com ansiedade o resultado da balança comercial de abril. Se, como parece, ele não confirmar um superávit de US$ 200 milhões a US$ 300 milhões, pode ser um sinal de alerta importante.
A razão é explicada pelo ex-presidente do Banco Central, Ibrahim Eris, insuspeito em sua análise porque tem sido, entre os economistas independentes, um dos mais otimistas em relação ao futuro do Plano Real.
O fato é que desde que a balança comercial voltou a ser superavitária, em agosto do ano passado, todos estão tentando descobrir qual será seu nível de equilíbrio. Em outubro, o superávit anualizado equivalia a US$ 6 bilhões.
Entre novembro de 95 e janeiro deste ano, a balança parecia indicar alguma coerência. Seu superávit, anualizado e considerados os fatores sazonais, indicava algo entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões. Mais do que confortável.
Em fevereiro, contudo, o superávit anualizado caiu para US$ 2 bilhões e, em março, ele se transformou em déficit de US$ 2 bilhões. Acendeu um sinal amarelo. Abril pode ser uma indicação mais segura sobre o futuro. Um superávit entre US$ 200 milhões e US$ 300 milhões apontaria para um equilíbrio em termos anuais, tranquilizando o mercado.
Eris acha que mesmo um resultado um pouco pior -superávit de US$ 100 milhões a US$ 200 milhões-, equivalente a um déficit de até US$ 2 bilhões no ano, não assustaria. Poderia ser perfeitamente financiável com recursos externos mais estáveis, como investimentos diretos.
O que importa não é exatamente o número, que depende de várias hipóteses, mas a análise que está por trás. A essência da questão, diz Eris, não tem origem no Plano Real e sim na abertura externa iniciada em 1990. Entre a redução de tarifas e a consolidação das importações existe uma defasagem. De início, há descrédito, depois pesquisa, mais tarde adquire-se experiência e, finalmente, incorpora-se a importação no "mix" de produção e venda.
Ele acha que a maturação da abertura comercial coincidiu com o Plano Real, em 93/94. O Plano Real, contudo, passou por fases atípicas. A primeira, até abril de 95, foi de euforia, explosão de importações, altos estoques e câmbio supervalorizado.
A segunda fase veio com o freio no crescimento, que levou à desova de estoques de importados, só completada no início deste ano. Supõe-se que já começou uma terceira fase, onde, esgotados estoques exagerados, chega-se a um nível de equilíbrio nas compras externas.
É esse nível que poderá indicar qual a relação futura entre importação e crescimento. No passado, ela era de 1% a mais de importação para cada 1% a mais de PIB. Com a abertura ela certamente subiu, mas ninguém sabe direito quanto.
Por essa razão, o comportamento mais recente da balança comercial é tão importante: como um indicador do nível de acomodação das importações.
E quais as consequências? Para Eris, se o nível de equilíbrio for um déficit comercial de US$ 2 bilhões, não há problema. Se for superior, o caminho correto é acelerar, em muito, a redução do custo Brasil, para aumentar a competitividade das exportações.
Tentar regular o déficit da balança segurando o crescimento, com juros altos, é algo que só funciona a curto prazo, porque os juros destroem a economia. "E 22 meses de Plano Real já não é mais curto prazo", lembra.
Ele acha que os ganhos de produtividade de 90 a 94 compensaram qualquer suposta defasagem cambial. Se o novo nível de equilíbrio das importações for insustentável, contudo, o plano corre risco e pode-se reabrir a discussão sobre o câmbio.
Monetarismo
No jantar no Alvorada, quinta-feira, entre o presidente e vários economistas, o diretor do BC, Francisco Lopes, ao ouvir uma observação de Affonso Celso Pastore, provocou: "Eu achei que você era um monetarista". Pastore devolveu: "Monetarista, eu? Perto do que você fez com os juros eu sou uma freirinha".

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