São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

é revolução sim

CAIO TÚLIO COSTA

Já imaginou o tempo que vai sobrar sem ter obrigação de ir ao supermercado, aguentar a fila do caixa, e esperar o gerente aprovar o cheque?
A propaganda de lançamento do Universo Online apresenta o novo serviço do ciberespaço como uma revolução. Leitores e amigos acharam a expressão exageradíssima. Nem sequer perguntei a tão exigentes interlocutores se possuem computadores porque sei, mesmo que tenham, irão concordar comigo, e não precisa ser agora.
Universo Online, ou qualquer outro serviço que venha a existir nos mesmos moldes, é uma revolução real. Melhor, o início dela.
Duvida? Se você tem computador ou trabalha com ele no escritório, me diga, usa esta máquina para quê?
"Escrevo textos, as crianças se divertem com jogos, dá para montar planilhas e projeções importantes, fazer a declaração do imposto de renda e até desenhos da maior sofisticação", você dirá.
Tudo verdade. Mas é muito pouco.
Esta revolução apenas começa aqui, onde os telefones são poucos e caros, e computador ainda é peça de elite -apesar da indústria da informática ter vendido mais de 800 mil máquinas no ano passado no país.
Esta revolução vem se maturando faz 25 anos no exterior quando inventaram a CompuServe (a mais velha das grandes empresas de serviço on line) e esboça sua potencialidade aqui. Vem no bojo da previsão de que computador, televisão e telefone convergem para um único aparelho, história batida, mas fundamental na ponta da grande mudança. Saber manejar esse instrumento, portanto, é a porta de entrada deste novo mundo.
Um dos grandes problemas do homem contemporâneo, e que vai piorar quanto mais estável for a inflação, é o aumento do custo da mão-de-obra dos serviços. À classe média, cujo destino é inchar, vai faltar dinheiro, por exemplo, para pagar domésticos porque este trabalho também vai custar mais caro. E o doméstico vai faltar porque estará ganhando mais alhures. A carga de serviços domésticos, em cada domicílio, aumentará. Faltará ainda mais tempo para o lazer, e estou só num dos muito exemplos possíveis.
O computador, interconectado a uma central de serviços on line -a Internet criou essa realidade-, permite que você escreva uma carta, coloque uma imagem ou um livro inteiro nela, e a transmita para alguém na Austrália sem sair de casa. Dispensa datilografar à máquina, envelope, ida ao correio ou o trabalho de discar o fax. Já a transmissão de informações via correio eletrônico computadorizado é imediata, digital, sem intermediários humanos aparentes.
Isto para falar só na possibilidade da comunicação por escrito e no envio dos documentos, sem entrar na multiplicidade interativa que virá com áudio e vídeo. De outro lado, você vai poder comprar o que quiser, em qualquer lugar da sua cidade ou do planeta sem sair de casa! Já imaginou o tempo que vai sobrar sem ter obrigação de ir ao supermercado, aguentar a fila do caixa, e esperar o gerente aprovar o cheque?
Sem falar na disponibilidade de consultas a banco de dados, enciclopédias, dicionários, livros de referência em geral, almanaques. Sem falar em notícia em tempo real. Sem falar nas transações bancárias...
Estou deslumbrado?
Não. Só contente de viver num mundo em que facilidades como esta liberaram tempo para a vida.

E-mail: caio@folha.com.br
Ilustração: "White Devil" Instalação, Paul Garrin 1992-93

Texto Anterior: os riscos de uma gravidez tardia
Próximo Texto: mamãe do ano das mães
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.