São Paulo, sexta-feira, 10 de maio de 1996
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Fundos querem a Vale

CELSO PINTO

Um dos conflitos mais delicados na privatização da Vale tem sido mantido, até agora, na surdina. Os fundos de pensão querem o controle da Vale, mas deverão enfrentar uma séria resistência do governo.
Hoje um grupo de grandes fundos de pensão já controla 18% do capital da Vale: 13,6% são fundos de estatais e 5% fundos privados. Se a privatização da Vale mantiver o direito de participação proporcional, os fundos poderão comprar mais 11,4% do capital da empresa, chegando a 30% do total.
Ao mesmo tempo, os funcionários da Vale estão brigando, há tempos, pelo direito de comprar pelo menos 10% do capital da Vale na privatização.
Eles querem vantagens idênticas às que existiram em privatizações anteriores, em que os funcionários puderam comprar 10% das ações, com deságio de 70% e financiamento de até 20 anos. Os funcionários já criaram a Investvale, um clube de investimentos para representá-los na privatização.
Se tudo isso for atendido, os fundos de pensão, aliados aos funcionários, ficariam com 40% do capital da Vale e controlariam a empresa. É a hipótese que interesse aos atuais administradores. Eles ganhariam duas vezes: deverão preservar o emprego e, como funcionários da Vale, lucrariam na compra das ações.
O interesse vem de longe. O maior fundo de pensão do país, a Previ, do Banco do Brasil, vem comprando ações da Vale há bem mais de um ano. Hoje, a Previ tem 8% do capital da Vale.
A intenção dos fundos de pensão é assumir o controle da Vale com um sócio privado, minoritário, que não queira interferir na administração futura da empresa. Não seria difícil encontrar candidatos, pois o porte da venda da Vale torna difícil a participação mais agressiva de grupos nacionais no negócio.
Existem, contudo, fortes resistências no governo à pretensão dos fundos de pensão e dos funcionários. O modelo provável de venda da Vale deverá limitar a participação. A idéia é pulverizar de 70% a 80% do capital e vender o restante como um bloco de controle, com uma limitação: cada participante só poderia adquirir algo entre 2% a 3% do capital.
Mesmo assim, os fundos de pensão, hoje com 18% do capital, seriam acionistas-chave na definição do grupo que controlaria a Vale privada. Por essa razão há quem defenda, no governo, que haja uma regra formal, talvez fixada em acordo de acionistas, proibindo que os fundos de pensão estatais assumam o controle.
Quanto aos funcionários, existe uma regra, aprovada pelo Conselho Nacional de Desestatização, que vai valer no caso da Light, que limita a parcela de ações oferecida aos funcionários a algo entre R$ 3.000 e R$ 4.000 por funcionário. No caso da Light, isso significará 4,1% do capital da empresa, com direito a deságio de 70% do preço da ação. Se prevalecer o mesmo critério para a Vale, a participação dos funcionários ficaria em uns 2% a 3% do capital. A idéia é limitar os privilégios a algo razoável em relação ao tamanho do negócio.
A resistência aos fundos é uma questão de preço. Se ficar claro que a Vale continuará com a mesma administração, os investidores perceberão menores chances de maiores lucros depois da privatização -e descontarão esse fator no preço das ações. Os fundos discordam e alegam que as oportunidades de alavancagem da Vale com a privatização são enormes: facilitaria, por exemplo, parcerias externas, hoje amarradas por razões políticas.
Outra razão de veto contra os fundos estatais é o fato de que, se a Vale privada quebrar, as estatais cobrirão o rombo. O final da privatização pode ser uma reestatização automática.
Como o BNDES quer limitar a participação de empresas concorrentes ou clientes da Vale no bloco de controle, uma restrição aos fundos estreitaria bastante o universo de compradores. O modelo ideal seria um controle pulverizado e uma administração profissional resultante do acordo entre vários acionistas. Esta briga, contudo, mal começou.

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