São Paulo, sábado, 11 de maio de 1996
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Família Marsalis faz tributo romântico às mulheres

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um exercício de romantismo sob a ótica do jazz. É como pode ser definido "Loved Ones" (Columbia/Sony), o álbum que o pianista Ellis Marsalis, 61, acaba de lançar, em duo com Branford, 35, seu filho saxofonista.
Assinando a produção (e os textos do encarte) aparece outro membro do famoso clã jazzístico de Nova Orleans: o trombonista Delfeayo Marsalis, 30.
O disco traz 14 faixas, todas elas intituladas com nomes de mulheres, como "Laura", "Liza" e "Delilah". Antigos "standards", quase todos em andamentos lentos, dominam o repertório.
Mesmo assim, apesar do evidente apelo popular do projeto, não se pode dizer que os três Marsalis tenham deixado de lado seu tradicional rigor musical.
Ellis é o verdadeiro dono da bola. Está presente em todas as faixas do álbum, que destaca cinco solos de piano. Alternando o sax soprano e o tenor, Branford comparece nas faixas restantes, quase como convidado especial.
O formato piano-sax implica por si só em maior liberdade rítmica e melódica. Sem a companhia de contrabaixo ou bateria, o duo pode arriscar mais nos improvisos.
Romantismo
Mesmo assim, "Loved Ones" soa distante de "Trio Jeepy" (1988) ou "Bloomington" (1991), álbuns em que Branford explorou com muita garra a liberdade dos trios sem piano. Em vez de limites sonoros, o que está em jogo agora é a atmosfera romântica.
"Não sei se nossas interpretações de 'Maria' (Bernstein e Sondhein) ou 'Miss Otis Regrets' (Cole Porter) podem ser consideradas jazz, mas somente o jazz permite esse tipo de liberdade expressiva", comenta o patriarca dos Marsalis, no encarte do CD.
Ellis orienta a gravação com seu estilo elegante e predominantemente melódico. Qualidades que ele esbanja nos solos da delicada "Nancy" (de Van Heusen e Silvers) ou da ingênua "Louise" (de Robin e Whiting).
Bem mais livre é a versão da balada "Stella By Starlight" (de Washington e Young), que recebe uma boa dose de dramaticidade, graças ao sax tenor de Branford.
Não faltam também algumas referências históricas. Na alegre "Lulu's Back in Town" (de Warren e Dubin), Branford cita um trecho da versão do pianista Thelonious Monk (1917-1982), mestre das dissonâncias.
Já a gravação de "Angélica", de Duke Ellington (1899-1974), relembra o clássico encontro do compositor e pianista com o sax soprano de John Coltrane (1926-1967) -uma influência marcante no estilo de Branford.
Na verdade, o próprio "Loved Ones" remete a "The Resolution of Romance", álbum de baladas gravado por Wynton Marsalis, em 1989. O clã de Nova Orleans sempre soube provocar suspiros, sem apelar para a pieguice.

Disco: Loved Ones
Intérpretes: Ellis e Branford Marsalis
Lançamento: Columbia/Sony
Quanto: R$ 20,00 (em média)

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