São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 1996
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'País precisa de disciplina fiscal'

DA REPORTAGEM LOCAL

Fernando de Holanda Barbosa começou mostrando que, de 1920 a 80, o produto brasileiro cresceu nada menos que 37 vezes. E de 1940 a 80, a inflação medida pela Fipe foi de 2.720.000%.
Por essa experiência, portanto, não há dilema entre crescimento e inflação. Mas a experiência dos últimos 15 anos diz justamente o contrário, comentou Holanda Barbosa. A renda per capita do brasileiro, em 1995, era exatamente a mesma de 1980. Foi, assim, um período de estagnação com taxas de inflação recordes.
Qual experiência se deve levar em conta? A mais recente, é a resposta do economista. Mesmo porque, salientou, o modelo de crescimento verificado até os anos 70 está definitivamente esgotado.
A crise do modelo exportador e a crise do Estado foram justamente a última parada daquele modelo. Assim, não há evidência teórica ou prática de que a inflação produza crescimento econômico de longo prazo, conclui Barbosa.
Para ele, portanto, é falsa a questão "crescimento x inflação". O correto, diz, é colocar a questão das relações entre crescimento e reforma do Estado ou ajuste fiscal.
E, aqui, a experiência histórica internacional não deixa dúvidas, disse. Casos de sucesso de desenvolvimento (Europa, Japão, Coréia, Taiwan) têm pontos em comum: não foram obtidos com inflação, mas com disciplina fiscal.
Essa é mais eficiente e mais justa. Isso porque, com os déficits, o Estado emite moeda para financiá-los e provoca uma inflação que subtrai a renda dos pobres.
Disciplina fiscal, portanto, é a chave para o Brasil voltar a ter condições de se desenvolver. E essa disciplina depende das reformas em votação no Congresso.
Trata-se de criar um novo quadro, no qual seja possível gerar poupança interna, ter recursos para educar a população e formar trabalhadores capazes de dominar as novas tecnologias.
O Plano Real pode chegar lá, mas tem problemas. Barbosa destacou: as reservas internacionais elevadas, com custos pesados; juros muito altos para o tomador de empréstimo; compulsórios muito elevados, sendo complicadas suas desmontagens; privatizações lentas; indisciplina fiscal, com o governo federal assumindo dívidas de Estados e prefeituras. (CAS)
Fernando de Holanda Barbosa, professor da Escola de Pós-Graduação da Fundação Getúlio Vargas-RJ, foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (governo Itamar)

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