São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 1996
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'Inflação não ajuda a crescer'

DA REPORTAGEM LOCAL

Mailson da Nóbrega é radical. Para ele, sustentar que a inflação ajuda, facilita ou estimula o crescimento é, simplesmente, uma "idéia cretina".
E Dornbusch é um "sujeito bissexto que de vez em quando aparece para dar palpite irresponsável".
Desclassificados, assim, o autor e a idéia, Mailson passou a defender sua tese: o desenvolvimento só é viável com estabilidade fiscal e monetária e com ganhos permanentes de produtividade.
A primeira condição depende da manutenção do Plano Real, no curto prazo, e da reforma do Estado, no médio e no longo.
Mas a estabilidade apenas não é suficiente. É necessária para que se busque a segunda condição, os ganhos de produtividade.
Estes, de sua vez, dependem de: geração de poupança interna; ambiente competitivo; absorção de novas tecnologias; educação.
Quais as chances de êxito?
Embora o ambiente seja pessimista, Mailson entende que, nos números, o Plano Real está hoje melhor do que no primeiro semestre de 1995.
O crescimento é hoje moderado, contra o ritmo explosivo (e inflacionário) do início de 1995, comentou Mailson. O comércio externo está equilibrado, em comparação com os déficits do ano passado, no mesmo período.
Além disso, continuou, o déficit público está em declínio e não há vulnerabilidade à crise externa.
E quais seriam os riscos hoje?
No curto prazo, Mailson relacionou dois: uma sucessão desastrosa de erros do governo, hipótese que considera remota, ou uma crise internacional, bloqueando investimentos, hipótese menos remota, mas ainda improvável.
No médio prazo, explicou, o risco é a derrota das reformas no Congresso. E, se isso acontecer, Mailson prevê um futuro negro.
Não haverá o ajuste fiscal, não haverá como equilibrar as contas públicas, de modo que deve ocorrer uma "implosão" da dívida pública. O governo então acabará recorrendo à emissão monetária.
Com isso, se refaz o processo inflacionário, podendo desta vez caminhar rapidamente para a hiperinflação, disse o economista.
Para ele, entretanto, há uma boa chance de aprovação das reformas, ainda que a agenda seja muito ampla. De todo modo, o processo será mais lento do que se esperava nos meios econômicos.
Mailson da Nóbrega, vice-presidente do banco BMC, foi ministro da Fazenda (governo Sarney)

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