São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 1996
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'Real não produzirá estabilidade'

DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Gonzaga Belluzzo anunciou desde logo o tom de sua intervenção. "Mailson cantou de canarinho, eu vou de urubu", disse.
Para Belluzzo, são praticamente inexistentes as chances de o Plano Real produzir uma estabilidade monetária duradoura.
E, se acontecer a hipótese remota da dar certo, o resultado será uma economia medíocre, sem crescimento e com empresas inviáveis.
Como os demais participantes da mesa, Belluzzo também entende que o ajuste fiscal é uma condição essencial para derrubar a inflação e retomar crescimento.
Mas acha que o governo FHC perdeu o momento de fazer a reforma fiscal. "Isso tinha que ser feito quando a economia crescia a 10% ao ano", disse.
Hoje, com a economia desaquecida, que aprofunda o desajuste das contas públicas, é muito mais difícil avançar com as reformas.
Foi exatamente por causa dessa dificuldade que o governo acabou ancorando o plano nos juros altos e no real valorizado em relação ao dólar. E aí caiu num dilema insolúvel, afirmou Belluzzo.
Essa combinação juros/taxa de câmbio produziu um desequilíbrio extra nas contas públicas, agravando uma situação que já era ruim, disse o economista.
Os juros altos, explicou, elevam as despesas e a dívida do governo. Mas não podem ser reduzidos, porque, baixos, não atrairiam investidores externos.
Na outra ponta, o real valorizado desestimula exportações e estimula importações, tudo tendendo ao desequilíbrio do setor externo.
Uma maxidesvalorização do real também não resolve, disse Belluzzo, porque quebra confiança e provoca fuga de capitais. Assim, resulta uma economia estagnada, que não supera a crise fiscal, nem a bancária, nem a inadimplência.
No setor externo, as enormes reservas não constituem garantia, porque se trata de dinheiro de curto prazo, com o risco de uma saída maciça de dólares, disse Belluzzo.
Não por acaso, disse, as empresas estão revendo para baixo seus planos de investimento. E muitos setores da indústria local vem sendo deslocados pelas importações.
Concluiu Belluzzo: "Eu não torço para isso, não desejo isso, mas o fato é que o Plano Real encalacrou o país nesse caminho de crescimento baixo". (CAS)
Luiz Gonzaga Belluzzo, professor titular de economia na Unicamp, foi secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (governo Quércia)

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