São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 1996
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Agentes não coíbem drogas na Detenção

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

O consumo de drogas não é reprimido nos pátios internos da Casa de Detenção, no Carandiru (zona norte de São Paulo), nos dias de visita.
Grupos de presos fumam cigarros enrolados a mão com cheiro característico de maconha enquanto outros recebem a visita de familiares. Uns cheiram pó branco, que à distância parece cocaína.
A Folha pôde observar ontem por três horas e meia a ausência de agentes penitenciários para impedir o possível consumo de entorpecente nos pavilhões 8 e 9.
"Todos os dias nossos homens vêem presos consumindo entorpecentes. Não podemos fazer nada dentro da Detenção. A responsabilidade pela fiscalização do pátio é dos agentes penitenciários", disse o tenente-coronel Antônio Carlos Mariano, comandante do batalhão que cuida dos muros do presídio.
O secretário da Administração Penitenciária, João Benedito de Azevedo Marques, afirma que o Estado tenta reprimir, mas que há apenas 150 homens para controlar 20 mil pessoas nos dias de visita (leia texto ao lado).
Na quinta-feira passada, um grupo de 51 presos, a maioria ladrões de bancos e traficantes, escapou do presídio através de um túnel de cem metros. Três dias depois, a segurança ainda não havia sido reforçada.
Pavilhão 8
Por duas horas e meia a reportagem ficou observando apenas o interior do pavilhão 8. Neste lugar, ficam presos aqueles que já passaram anteriormente pela Casa de Detenção.
Era dia de visita. Enquanto um grupo de oito crianças jogava bola no campo de futebol do pavilhão, três presos enrolavam um cigarro e lambiam as bordas do papel. Depois, um deles acendeu um cigarro tirado de um maço e o usou para acender o feito a mão.
Dois detentos fumaram o cigarro. Um terceiro recusou. Eles estavam próximos a um banheiro, no meio do pátio. Ao lado deles, outros detentos almoçavam com as famílias em tendas armadas com cobertores ou em pequenas mesas.
Na divisa entre os pavilhões 8 e 5, os detentos também ergueram tendas. Mais um cigarro artesanal foi feito pelo membro de um grupo. Desta vez, foi possível sentir o cheiro característico de maconha.
Seis presos dividiam a barraca, mas apenas três fumaram o cigarro. A dez metros dali, estava a muralha do presídio. Em cima dela, um dos postos da guarda.
No mesmo pavilhão, um preso tentou acender outro cigarro artesanal embaixo da muralha. Percebeu que estava sendo fotografado. Escondeu o cigarro e andou em direção ao campo de futebol.
Pouco mais a frente, na divisa entre os pavilhões 8 e 9, dois grupos prepararam cigarros. Um deles, acendeu. Fumou e passou para os companheiros sentados em caixotes.
Atrás, dois outros detentos perceberam que estavam sendo observados. Um deles reclamou e escondeu o cigarro artesanal. Em seguida, abriu um papelote, separou um pouco de um pó branco na mão, se abaixou e cheirou o pó.
Ao lado, no pavilhão 9, os presos estavam no pátio. Eles receberam visitas um dia antes. O cheiro de maconha era forte. Um grupo de 15 presos fez e acendeu dois cigarros. Quase todos fumaram.

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