São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 1996
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Mexicano critica a globalização

DA SUCURSAL DO RIO

O arquiteto mexicano Enrique Ortiz, secretário-executivo do Habitat International Coalition -uma instituição que congrega 300 ONGs de 80 países- acha que novos problemas urbanos nascem da globalização da economia, que cria focos de Primeiro Mundo dentro do Terceiro.
Segundo Ortiz, 58, a "cidade do dinheiro" não resolve os problemas das pessoas comuns -e, em muitos casos, os aprofunda. Para ele, as cidades são administradas para as minorias ricas, em detrimento das pessoas comuns.

Folha - Quais são os problemas em comum entre as cidades do mundo?
Enrique Ortiz - Eu creio que há uma diferença muito marcada entre os problemas de cidades nos países desenvolvidos e os das cidades de nossos países. Há alguns temas em comum: há muita gente sem teto, por exemplo. Nos Estados Unidos, há três milhões de sem-teto, mas creio que nossas cidades, do Terceiro Mundo, têm enormes problemas pelo impacto migratório, pela pobreza crescente.
Folha - Então, os problemas das cidades do Terceiro Mundo seriam mais próximos entre si?
Ortiz - Sim, mas também com diferenças. A América Latina praticamente está urbanizada, com 70% das pessoas vivendo em cidades. Na Ásia, são menos de 40%.
Folha - As crises urbanas têm raízes diferentes?
Ortiz - Com a globalização econômica, as cidades são subordinadas a grandes centros de decisão internacional, com os quais têm que estar muito bem conectadas. E a cidade começa a cumprir um papel subordinado e subordina cidades menores. Surgem grandes centros -com centros de comunicação avançados-, que são focos dentro das cidades, mas que não necessariamente estão resolvendo os problemas das pessoas comuns. É a cidade do dinheiro contra a cidade das pessoas comuns.
Folha - Haveria recursos para resolver os problemas urbanos?
Ortiz - Não posso falar que em países como Brasil ou México faltem de recursos. O problema é que estão mal distribuídos. Então, o fundamental é como fazer uma cidade para todos. Isso exige distribuição de recursos e democratização das decisões.
Folha - Qual é a sua expectativa para o Habitat 2?
Ortiz - Nenhum governo incluiu em suas delegações as organizações sociais. Então, o importante é não tanto o que poderá acontecer em Istambul, mas o que poderemos fazer juntos depois de Istambul.

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