São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 1996
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Aumenta confiança na dívida brasileira

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os títulos da dívida externa estão sofrendo o "efeito FHC". Os papéis de vencimento mais curto, como os IDUs, que têm prazo médio de 33 meses, passaram a ter compradores finais. Ou seja, surgiram investidores dispostos a ficar com os títulos até o vencimento.
No dia da posse de Fernando Henrique Cardoso, os IDUs pagavam juro de 7,39% sobre a remuneração oferecida por títulos norte-americanos de 30 anos (base de cálculo dos papéis latinos). Na sexta-feira, pagavam 4,37% a mais.
A redução do "spread" (diferença) mostra que, para o mercado internacional, diminuiu o risco de o Brasil não honrar esses títulos.
Segundo Márcio Verri, diretor-adjunto de Tesouraria do Banco de Boston, dois fatores explicam a redução do "risco Brasil":
1) o país tem reservas de US$ 55 bilhões (o caixa em moeda forte);
2) FHC tem consciência da necessidade de o mercado internacional enxergar com bons olhos o Brasil, porque sabe que o país precisa de fluxo de capitais positivo.
O "spread" caiu em todos os títulos da dívida externa. A queda foi maior nos de prazo mais curto. Títulos mais longos continuam embutindo "risco Brasil" maior.
Nos IDUs, a queda foi de 3,02 pontos percentuais; nos EIs (84 meses em média), de 2,74 pontos percentuais; e nos C-Bonds (153 meses), de apenas 1,5 ponto.
Assim, conforme Verri, os C-Bonds acabam sentindo mais que os outros papéis o impacto tanto das oscilações dos juros internacionais quanto do ritmo paquidérmico das reformas constitucionais.
"Está no preço de todos os títulos que as reformas vão acontecer. Pode ser até lentamente, mas vão acontecer", afirma.
Os IDUs se comportam quase como títulos de renda fixa (um CDB, por exemplo). Já no caso dos C-Bonds, os investidores não desprezam o possível ganho com as oscilações mais bruscas de preços.
Segundo cálculos de Verri, nos últimos 30 dias a oscilação dos preços dos IDUs foi de 4%, dos EIs, de 11%, e dos C-Bonds, de 26%.
"O EI ainda mantém um comportamento misto. Mas já é visível que cresce o número de investidores que passaram a comprá-lo para investimento final", diz.
Detalhe: o prazo médio do EI coincide com um hipotético segundo mandato de FHC.
Novos títulos Está em discussão no Senado proposta do governo de emitir novos títulos de dívida externa e resgatar parte dos atuais.
Verri explica que, para o Brasil -que é devedor-, não faz diferença se a dívida é nova ou velha. Para o mercado internacional, faz.
"As emissões novas realizadas pelo governo (no Japão, Alemanha e Portugal) pagaram um 'spread' ainda mais baixo do que o do IDU, embora os papéis tenham as mesmas características", afirma.
Logo, a possível troca vai permitir um ganho ao Tesouro.

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