São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 1996
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Com o nervosismo domado, só dá Palmeiras

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

À meia-força, o Palmeiras retomou o curso natural em direção ao título paulista deste ano: 3 a 1 no Araçatuba, que se insinuava como um fantasma a assombrar o Parque.
Na verdade, não se temia o Araçatuba, mas um possível desequilíbrio emocional de um grupo tão vencedor que já poderia ter perdido a capacidade de lidar com a derrota.
E o que se viu foi exatamente o oposto: o Palmeiras dominou os nervos, os espaços e a bola, a tal ponto de ter cometido sua primeira falta só aos 17min do primeiro tempo, quando já criara e desperdiçara algumas chances preciosas.
Os gols vieram normalmente, e poderiam ter atingido a soma de quatro, a marca do Palmeiras ao longo de quase todo este torneio. Quer dizer: nervos domados, bola rolando, só dá Palmeiras.
*
Enquanto isso, no Pacaembu, Corinthians e São Paulo cumpriam outro destino: disputar um clássico atípico -um, com seu time misto; o outro, dando tudo, o que, hoje em dia, é muito pouco.
Não deu outra: um longo, árido e pedregoso zero a zero.
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Nesse deserto, uma tímida flor desabrochando: França.
*
Se os fados resolverem punir o Palmeiras, empurrando este campeonato para o tal quadrangular, que pelo menos incluam o Santos, em nome do gol. Sim, porque se o Palmeiras comandou por quase toda a temporada a revolução dos gols, o Santos é o seu mais fiel seguidor.
A bem da verdade, o Santos antecipou-se ao Palmeiras, quando, no Brasileiro do ano passado, exibiu um futebol lépido e agressivo, acumulando goleadas históricas, tendo Giovanni no centro de todas as ações ofensivas. Depois, o time desintegrou-se para reintegrar-se somente neste segundo turno do Paulista.
No sábado, apenas seguiu seu instinto: 5 a 3 no América, uma goleada construída já nos vestiários, quando o técnico Orlando resolveu armar seu time com um só volante -Gallo. Deslocou o meia Vágner para a lateral-direita, enfiou Camanducaia e Macedo lá na frente, recuando Giovanni para sua verdadeira posição, no meio-campo, de onde o craque distribuiu o jogo com rara clarividência, ao lado de Robert e Jamelli.
Por isso, se me fosse dada uma única prece, seria esta: Senhor, pelo amor dos gols, preserve este Santos!
*
Eles chegaram a se encontrar em São Januário, por breve período, na metade dos anos 50.
Mas um já se despedia do futebol e o outro começava a vislumbrar a descida lá do alto da fama conquistada no célebre esquadrão da Portuguesa de Djalma Santos, Brandãozinho, Julinho, Nena etc.
Já haviam se encontrado em seleções brasileiras, inclusive a da Copa de 54, na Suíça. Mas não puderam construir juntos uma legenda, embora ambos tivessem algo em comum: a velocidade, o "rush" -como se dizia na época- absolutamente irrefreável, que só terminava nas redes adversárias.
Ademir e Pinga, agora se reencontraram definitivamente, no campo dos sonhos, onde a grama é sempre verdinha, e a bola rola macia, sem parar.

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