São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 1996
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Zé Celso finalmente estréia sua "tragycomediorgya"

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de 13 anos de preparação, "As Bacantes", de Eurípides, com direção de José Celso Martinez Correa, estréia no dia 1º de junho. É uma montagem histórica. O Teatro Oficina foi projetado por Lina Bo Bardi especialmente para abrigar esse espetáculo.
"É um ato de fé cênica, de ressurreição do trabalho de grupo", diz Zé Celso. Falar em "fé" não é exagero, partindo da boca dele.
O grupo conseguiu apenas R$ 60 mil, da Secretaria Municipal de Cultura, para realizar a peça -como diz o diretor, "o mesmo que eles dão para todo mundo, mesmo que seja um monólogo".
Diretor e atores se consideram "posseiros" do teatro. Tombado em 1982 como patrimônio artístico, o Oficina está abandonado pelo poder público.
Um convênio assinado no final do governo Fleury garantiria o funcionamento regular do teatro, mas o documento não foi honrado pelo atual governo do Estado.
Patrocínios não aparecem. Diversas empresas foram procuradas pelo grupo, algumas chegaram a visitar o teatro.
Mas nenhum empresário ainda quis se associar a um projeto que tem como princípio fugir radicalmente do padrão bem-comportado e comercial que está na raiz do conceito de "marketing cultural" -o "teatro morto", nas palavras de Zé Celso.
É contra tudo isso, e absorvendo em sua estrutura todas essas brigas, que "As Bacantes" entram em cena, como uma grande festa, um espetáculo carnavalesco.
O Teatro Oficina Uzyna Uzona, no entanto, não quer se render a uma posição supostamente heróica, orgulhosamente marginal.
"As pessoas precisam ver nosso trabalho, nós estamos prontos para receber os patrocinadores, para negociar com o governo", diz o ator Pascoal da Conceição, também administrador do teatro.
Eles têm três semanas para encontrar alguns elementos que ainda faltam: uma cantora, um flautista, parte dos figurinos. Mas isso não ameaça a estréia. Anunciada várias vezes nos últimos anos, a peça estará pronta no dia 1º. É um ato de fé no teatro.

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