São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 1996
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"É evangelho de Dioniso", diz diretor

DA REPORTAGEM LOCAL

Eurípides (485-406 a.C.), considerado o último dos grandes trágicos da Grécia Antiga, escreveu "As Bacantes" aos 80 anos, no exílio. "É o único evangelho de Dioniso", diz Zé Celso.
A peça narra a tentativa do rei Penteu de impor a autoridade civil sobre as desordens e orgias associadas ao culto do deus Dioniso, símbolo do vinho e do prazer, também deus do teatro. Penteu acaba estraçalhado pela própria mãe e pela mulher, elas mesmas adoradoras dionisíacas.
Nas cinco horas de espetáculo, com um intervalo regado a vinho e carne, "As Bacantes" encenada por Zé Celso absorve muitas histórias: a do teatro grego, a do Brasil, a do próprio Oficina.
O mensageiro que fala a Penteu dos ritos de Dioniso, por exemplo, é Euclides da Cunha, anunciando o prelúdio da guerra sertaneja das bacantes: "Aí, no limite do Citerão, essa terra ignota! Esse sagrado planalto! Lá, elas, pombas brancas, saqueiam as taipas de Uauá e Elytréia. Viram tudo!"
O personagem Cadmo, que compra a preço de ouro a possibilidade de presenciar uma bacanal, são todos os governantes com os quais o Oficina já tentou se entender, são todos os possíveis patrocinadores que se negam ao grupo.
A grande passarela que é hoje o teatro Oficina, mais do que abandonar o tradicional palco italiano, deseja estraçalhá-lo. A peça começa na rua, os personagens entram num carro alegórico e a alegria carnavalesca é, para o grupo Oficina, o mesmo impulso dionisíaco das bacantes gregas.
"Eurípides passou a bola para nós. Numa passagem de ano, nós percebemos que tinha acabado a Era de Prometeu, o castigo pesado dos anos militares, e as bacantes estavam chegando", diz Zé Celso.
O projeto de montagem da peça remonta a 1983. Em 84, para reformar o teatro, foi chamada a arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992), que projetou o novo prédio pensando na montagem de "As Bacantes".
A estréia da peça é o parto desse longo projeto. A peça já chegou a ser encenada em Ribeirão Preto, no ano passado, na forma de um ensaio aberto. Agora, no espaço construído para ser seu berço, pretende ser o nascimento de um novo teatro, nas palavras que encerram a montagem:
"Assim acaba o drama e a dramaturgia; assim começa a Tragycomediorgya."

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