São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 1996
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'Arte brasileira é novidade', diz curadora

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

A galeria Lélong não tem compromisso com a arte latino-americana. Não é alternativa, não fica no Soho, não tem ligação com minorias ou o politicamente correto.
Trata-se de uma das maiores e mais poderosas galerias de arte do circuito internacional, com filiais em Paris e Nova York.
Localizada na rua 57, dealers e curiosos vêem nela cada vez mais exposições de arte contemporânea brasileira. Há dois anos, organiza individuais de Jac Leirner, Cildo Meireles, Waltércio Caldas.
Por trás desse fenômeno está a marchande e curadora Mary Sabbatino, que dirige a Lélong de Nova York. Visionária, ela teve a idéia de organizar um pool de galerias locais que, em 1995, realizaram a mostra "Art From Brazil".
Em entrevista exclusiva à Folha, ela explica por que a arte contemporânea brasileira deve ser o novo boom do mercado internacional.
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Folha - A primeira artista brasileira que você expôs na Lélong foi Jac Leirner, em 1994. Por quê?
Mary Sabbatino - Eu já me interessava por artistas latino-americanos. Sabendo disso, alguns curadores norte-americanos me indicaram artistas de outros países.
Jary Jane Jacobs, que esteve no Brasil, me falou de Jac Leirner. Depois, na última Documenta de Kassel, coincidentemente, lá estava ela, ao lado de outros brasileiros como Waltércio Caldas, José Resende, Cildo Meireles, Tunga. Fiquei fascinada pelo trabalho deles.
Folha - O que Jac Leirner teria de brasileiro?
Sabbatino - Se há uma brasilidade em seu trabalho, está ligada a uma continuidade de sua produção com uma consistente tradição da arte conceitual que existe no Brasil e que a conecta com Hélio Oiticica, Mira Schendel, Lygia Clark. O incrível é que pouca gente conhece essa tradição conceitual de arte do Brasil.
Folha - Como foi a recepção da exposição de Leirner na Lélong?
Sabbatino - Foi positiva e, de 94 para cá, a abertura para a arte contemporânea brasileira tem alargado muito. Muita coisa mudou desde então. O mercado internacional está sempre buscando novidades, a "coisa" do momento. E acho que essa coisa agora será a arte contemporânea brasileira.
A presença de vários brasileiros na Documenta foi um indício desse quadro. Percebi também que um número maior de curadores e críticos da Europa e dos EUA foram à 22ª Bienal de São Paulo. Vejamos o que vai acontecer na 23ª.
Folha - Como você escolheu os outros dois artistas, Cildo Meireles e Waltércio Caldas?
Sabbatino - Percebi que Cildo Meireles é um dos maiores artistas conceituais contemporâneos, independente da nacionalidade. Ele está sempre inovando, sua cabeça não pára. Waltércio Caldas também é um original. Ele trabalha de modo tão pessoal, autêntico e espiritual que sua obra se confunde com a sua pessoa.
Folha - Na sua opinião, a que se deve esse novo interesse internacional pela arte brasileira hoje?
Sabbatino - À decisão da curadora da última Documenta de incluir vários brasileiros. Ao convite da Bienal de São Paulo de me levar e a outros marchands e curadores para São Paulo em 1994, que resultou no projeto "Art From Brazil".
Ao Drawing Center, que mostrou Mira Schendel, e à galeria Marian Goodman, que fez uma exposição de Hélio Oiticica. À mídia local, que deu importância para as mostras de brasileiros -o jornal "The New York Times", a revista "New Yorker", "The Village Voice", todos se interessaram.

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