São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 1996
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'Águia' exemplifica cinema nacional de resultados

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Dois acontecimentos quase paralelos: o anúncio do projeto de "O Xangô de Baker Street" e a exibição de "Águia na Cabeça" (Bandeirantes, 21h30).
O filme de Paulo Thiago ilustra a tentativa, em meados dos anos 80, de fazer um cinema de apelo popular (trama policial, jogo de bicho, atores famosos etc.). Não a melhor das tentativas, talvez, mas a ilustração de um projeto temerário, em voga na época: filiar a dramaturgia do cinema à de televisão.
"O Xangô" assusta pelos números. Jô Soares recebeu R$ 200 mil de adiantamento pelos direitos do livro. O projeto está orçado em mais ou menos R$ 8 milhões. É mais do que, digamos, "Os Suspeitos". São 16 "Carlota Joaquina", ou quase. São 32 filmes do francês Eric Rohmer.
Estamos num território recente: o da globalização, o dos recursos captados no mercado de capitais. O volume, porém, é assombroso.
O Brasil tem uma tendência delirante a não se enxergar, a virar as costas a si mesmo. Pode-se argumentar que, com o nome de Jô Soares, atores internacionais e um ponto de partida simpaticíssimo, tudo predispõe ao sucesso.
Pode ser. Mas isso não é tudo na vida. Orçamentos dessa ordem amarram a realização a padrões que remetem àquilo que o Brasil pensa que é, sem ser.
Não se pode prejulgar um filme que nem foi escrito. Mas existe a obrigação de olhar uma história. Toda vez que se tentou investir no "cinema de resultados" no Brasil, a coisa deu para trás.
"Águia na Cabeça" é um exemplo, mais modesto, de como a subordinação do cinema a algo que lhe é exterior costuma mais criar do que resolver problemas.
(IA)

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