São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 1996
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Viva a beleza

DARCY RIBEIRO

Brasileiro gosta muito de maior do mundo. Hoje tenho dois para você. Dois maiores do mundo duplicados. O primeiro é a floresta da Tijuca no Rio, que com seus 3.400 hectares é a maior floresta urbana do mundo.
Foi plantada por Pedro 2º com a sabedoria de um botânico e com muita mão escrava. Hoje é uma beleza só, alta, densa. Serve até para esconder sequestrados nas encostas, no meio das árvores.
A segunda é a floresta da Pedra Branca, que comecei a plantar no Rio por decisão de Brizola e Marcelo, que pediam alguma coisa sensacional, maior do mundo, para apresentar aos ecologistas e floresteiros da Rio-92. A área escolhida tem 14.300 hectares, é enormíssima e por si mesma já muito bela como floresta original. É a floresta de defesa dos maiores mananciais de água potável da cidade.
Montamos para isso um viveiro capaz de produzir anualmente 1 milhão de mudas do que ninguém planta: aroeiras, paus-brasil, jacarandás, ipês etc. etc.
O viveiro só já é uma beleza e está produzindo desenfreadamente. Falta é a segunda parte do programa, que seria contratar, nas favelas das redondezas, casaizinhos jovens para namorarem no mato e plantarem minhas mudas. Teria a vantagem de dar empregos a muitos rapazes e moças, mas sobretudo, de interessá-los na floresta.
Conto essas vantagens para dizer que outro dia viajei do aeroporto de Cumbica até Sampaulo. Viajei horrorizado, com os olhos pregados no pobre rio Tietê, rio geográfico e até histórico, de São Paulo e até do Brasil, que lá vi convertido em fossa, porta-bosta, enclausurado entre dois estradões medonhos. É um rio rodoviário. Coitado.
Vi e me encantei com os rios das grandes cidades da Terra, amados e cuidados por toda gente, porque estão arrodeados de bosques, passeios e plataformas de pescas. O povo vai ao rio para comprar livros dos buquinistas em Paris, lembranças turísticas em Londres ou Berlim e ainda não sei o quê em Moscou. Vão sobretudo, espairecer, viver, comer com os olhos, o verde da encosta e o azul do rio.
Paulistanos e paulistas das cidades cortadas pelo rio Tietê merecem também essas belezas. Dizem que Covas e Maluf estão desinfetando as águas, mas isso só não adiante. É preciso arrancar pelo menos uma faixa da estrada, jogar fora, e paisagizar as duas beiras do rio. E olhem só, é até negócio, porque no Rio já estão usando a revivificação da floresta da Pedra Branca como argumento eleitoral do candidato oficial.

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