São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 1996
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Susan Sontag rejeita o futuro da Europa

JAIR RATTNER
DE LISBOA

Para Susan Sontag, a unificação da Europa é uma idéia que só serve para deixar pessoas de fora. A autora do romance "The Volcano Lover", e do ensaio "A Aids e Suas Metáforas", considera que o projeto europeu é um negócio.
Em Lisboa, onde foi falar na conferência Europa 96, Sontag conversou com a Folha. Depois da entrevista, contou que é admiradora do sociólogo Herbert de Sousa e que ficou fascinada com o Brasil.
Folha - Acredita que existe uma unidade na cultura européia?
Sontag - Acho que a união da Europa é um projeto muito velho. Trata-se de uma construção e não existe razão para italianos, suecos, britânicos e poloneses pensarem que têm alguma coisa em comum.
Folha - A unificação européia é um caminho para a destruição das culturas menores?
Sontag - Sim. Esta é a natureza desse tipo de unificação. Os chefes de Estado têm mentido para os seus povos, dizendo que é possível manter a soberania dos países com a unificação.
Folha - E quais as consequências?.
Sontag - Vai fazer os ricos mais ricos e aumentar o fosso entre ricos e pobres. A maioria das pessoas vai ficar de fora. A Europa sempre aparece como uma noção que exclui as pessoas.
Folha - A senhora acha que vai surgir uma onda de resistência?
Sontag - Vai haver resistência econômica. A Europa costuma ser vista como um conceito Ocidente-Oriente, mas a verdadeira barreira é no sentido Norte-Sul. O norte é mais próspero e não gosta do sul.
Folha - A senhora acredita na possibilidade do renascimento nazismo?
Sontag - Não, a não ser que haja uma crise econômica. É o colapso que vira as pessoas contra qualquer tipo de sociedade aberta.
Folha - Depois de ter estado na Bósnia, o que significa ser uma intelectual engajada hoje?
Sontag - Acredito que esse tipo de atividade continua válido. O que mudou é que menos pessoas querem cumprir esse papel. O sentimento de solidariedade, o internacionalismo, está mais fraco do que costumava ser. Não quero viver apenas cuidando de meus interesses e de meu trabalho.
Folha - A senhora escreveu um livro sobre a Aids. Acha que o livro ajudou a mudar a forma como os americanos vêem a doença?
Sontag - Espero que sim. As pessoas ligam a idéia da doença a conceitos moralistas e a doença acaba sendo vista como punição. Parece que só pode haver uma doença estigmatizada.
Folha - No que a senhora está trabalhando agora?
Sontag - Estou escrevendo um romance. É situado no final do século passado, na América.

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