São Paulo, quinta-feira, 16 de maio de 1996 |
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The Boom traz seu batuque com sotaque
CELSO FIORAVANTE
Criado em 1986 pelo líder e vocalista Kazufumi Miyazawa (Miya) mais três companheiros de faculdade, todos da cidade de Kofu, o grupo faz algo que poderia se chamar de "world music". No quarteto central da banda, que possui cerca de 15 membros fixos, entram ainda o guitarrista Takashi Kobayashi, o baixista Hiromasa Yamakawa e o baterista Takao Tochigi. O próprio nome da banda -The Boom- já diz tudo. Eles querem conquistar o mercado com uma mistura de sons de base predominantemente de percussão. Nesta mistura entram ska, reggae, ragga, rap, dance, bangra music e agora, com muita força, bossa-nova, samba e todo tipo de batuque. O show Animação é o que não falta no show do The Boom. Pelo menos em cima do palco, onde parece que as pessoas mais se divertem. No show de segunda-feira, no Rio, a platéia parecia -com razão- mais interessada em observar o incessante movimento no palco que em dançar o batuque com sotaque. No palco, era possível ver Miya encarnar vários papéis, de sex symbol do Oriente a cover de Elvis Presley; o bom guitarrista Takashi Kobayashi "recebendo" um Carlos Santana rápido nos solos progressivos e blueseiros de "Human Rush"; e, melhor de tudo, as duas bailarinas e vocalises, que merecem um parágrafo à parte. Kosugi Noriko e Sasuga Minami parecem gueixas do apocalipse. Dançam como loucas e roubam a cena do belo Miya. Mas, em seu trabalho de conquista de mercado, o The Boom apresenta um problema. Trabalha com muitas culturas, mas não se aprofunda em nenhuma. Se apropria basicamente de todos os estereótipos possíveis e os cozinha no caldeirão da world music. Até as listras da Timbalada eles pegaram. A carreira A explosão do The Boom começou no Japão em 1990. Com o terceiro disco, "Japaneska", realizam uma turnê de 73 shows pelo país. O disco seguinte, "Shishunki", tem in fluências da música do arquipélago de Okinawa e duas de suas faixas são interpretadas com o sanshin, o tradicional alaúde local de três cordas. O single "Shima Uta" vendeu 1,5 milhão de cópias. Com o álbum, "Faceless Man", começa a invasão asiática. O disco traz influências de música indonésia, paquistanesa e indiana. Harmonioso e bem produzido, O CD "Samba do Extremo Oriente" (que a Sony está lançando agora no Brasil e que é bem melhor que o show homônimo) já diz em seu título quais as influências que o grupo quer propagar. "A música brasileira é muito complexa. Meu próximo disco, 'Tropicalismo', ainda terá influências brasileiras, além de cubanas e indonésias", disse o líder Miya em entrevista à Folha, no Rio. Mas de tropicalismo, Miya entende pouco. Sabe que foi capitaneado por Caetano Veloso e que foi um movimento forte, que transformou a música brasileira. "Gostaria de fazer um movimento semelhante no Japão", disse. Como um pequeno Messias, o vaidoso Miya apregoa para si o papel de mensageiro de um novo pop japonês, que libertará os japoneses do domínio musical americano. "A influência norte-americana ainda é muito forte no Japão. A world music nunca entra nas paradas japonesas. Mas não estou contente com essa realidade e pretendo mudá-la. Acredito que as futuras gerações vão perceber o trabalho que estamos fazendo", disse. Show: Samba no Extremo Oriente Grupo: The Boom Onde: Tom Brasil (r. das Olimpíadas, 66, tel. 011/820-2326) Quando: hoje, às 22h Ingressos: R$ 20,00; R$ 30,00 e R$ 50,00. Ingressos a domicílio pelo tel. 5589-8202. Texto Anterior: A Irlanda de Joyce e do U2 é o paraíso terrestre Próximo Texto: Búlgaros resgatam seu legado cultural Índice |
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