São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 1996 |
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História sem fim
MARIA ERCILIA
Não dá nem para ignorar, já que o beta 3, que estou usando, está cheio de bugs (pequenos defeitos). O remédio é baixar mais uma versão do meu navegador preferido. Vamos lá... Enquanto espero pacientemente conseguir uma conexão com o servidor da Netscape, perpetuamente ocupado e lento, fico pensando nessa doideira de beta. Para que tanta versão nova? Dá uma sensação de história sem fim... As últimas versões do Netscape estão mais "enchendo linguiça" que revolucionando a arte de navegar. O programa está virando um monstro. Agora, frequentemente, a única diferença entre um beta e outro é um logotipo de outra cor, ou até o nome do produto. Por exemplo, entre o Atlas 2 (nome provisório da primeira versão do Netscape 3.0) e o Netscape 3.0 beta 1, eu não vi nenhuma diferença. Apenas o nome... O que acontece é que o lançamento de versões beta virou o marketing mais barato e eficiente que uma empresa de software pode querer. Quando a empresa lança um beta (não é só a Netscape que se vale dessa estratégia), gera notícia. A propaganda de boca, eficientíssima na Internet, começa imediatamente a funcionar. A seguir, jornais e revistas anunciam a nova versão. Pronto, o programa ganhou uma exposição que não teria de outra forma. Outro efeito dessa estratégia é que ela cria um relacionamento com o consumidor, baseado numa sensação de que o produto nunca se esgota, nunca está completamente pronto. O software está lá, estacionado no seu computador, mas você sabe que ele já está a caminho da obsolescência, que daqui a pouco vai haver um melhor, mais rápido etc.. Esse esquema só se tornou viável com a explosão da Internet. Imagine o preço dos disquetes, a mala direta para os prováveis alvos do "beta teste", os folhetos promocionais, manuais... Seria mais caro que fazer um anúncio. Hoje tudo o que a empresa precisa fazer é anunciar a existência do programa em sua página, que o cliente corre até ela e faz todo o resto do serviço. Os programas cujo desenvolvimento se dá embaixo dos olhos dos usuários, além de terem mais agilidade para mudar, têm publicidade mais barata, sobrando mais dinheiro para pesquisa. O contato mais direto com o usuário permite que o programa evolua com ele e responda mais rápido aos seus gostos e necessidades. O problema é a distorção disso, quando o lançamento de versões se torna puro marketing e a palavra "beta" vira desculpa para todo tipo de problema. No caso do Netscape, o beta 3 apareceu com bugs que não existiam no beta 2. O abuso do beta pode acabar com a confiança dos consumidores e transformar uma bela experiência de colaboração com o consumidor numa frustração sem fim. E-mail±netvox@folha.com.br Texto Anterior: Viúva pede livros de volta à USP Próximo Texto: Eliane Silva debate no Universo Online; Brigitte Bardot lança biografia em setembro; Morre ator Eric Barreto, o "Carmen Miranda"; Museu realiza hoje debate com designers Índice |
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