São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 1996
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Receita por funcionário não é tão importante

BILL GATES
RECEITA POR FUNCIONÁRIO NÃO É TÃO IMPORTANTE

Pergunta - Que tipo de política e estratégia de recursos humanos você usa para manter seu índice de faturamento por funcionário no melhor nível possível? Shirley Yang, Hong Kong (shirley@ sclpinet.clp.com.hk)
Resposta - Calcular o faturamento por funcionário é fácil, mas esse índice não constitui uma boa medida de eficiência.
Para calcular o índice de faturamento por funcionário de uma empresa, basta dividir o faturamento anual pelo número de funcionários.
Uma empresa de cem funcionários que fatura US$ 20 milhões por ano terá um índice de faturamento por funcionário de US$ 200 mil.
Se todos os outros fatores forem iguais, é claro que obter US$ 200 mil por ano em receita por funcionário será melhor do que obter US$ 150 mil. Mas é raro acontecer de todos os outros fatores serem iguais.
Uma organização que precisa de relativamente poucos funcionários -talvez por terceirizar parte do trabalho- pode ter um alto índice de faturamento por funcionário.
Mas talvez não seja tão eficiente quanto outra empresa que apresente faturamento por funcionário um pouco inferior, porque emprega mais funcionários e faz tudo dentro da própria empresa.
Não estou sugerindo que terceirizar partes do trabalho seja uma coisa ruim. Pelo contrário: a Microsoft terceiriza muitas coisas, desde funções até paisagismo, passando pela manufatura de CD-ROMs.
Concentramos o trabalho de nossos próprios funcionários naquelas tarefas nas quais temos a maior competência, como escrever programas e administrar grandes projetos.
A terceirização ficará mais comum à medida que, com sistemas de comunicação como a Internet, for ficando cada vez mais fácil para as empresas trabalharem com fornecedores externos -tão fácil quanto trabalhar com departamentos internos da própria empresa.
À medida que essa tendência for se acelerando, o faturamento por funcionário vai se tornar ainda menos significativo no que diz respeito à medida da eficiência de uma empresa.
As empresas que são administradas tendo em vista a meta de atingir um "X" de faturamento por funcionário correm o risco de incentivar a terceirização, mesmo quando ela não faz sentido.
Os administradores tendem a encontrar maneiras espertas de transferir tarefas para fora, para proteger um orçamento interno -mesmo quando isso não atende aos interesses mais amplos da companhia.
O inverso também pode acontecer. Um gerente que disponha de um orçamento insuficiente para terceirização pode contratar funcionários para fazer uma tarefa que seria mais bem realizada por uma terceira firma.
Muitas empresas controlam a folha de pagamento muito bem, mas não conseguem disciplinar o orçamento de terceirização. Isso pode levá-las a não enxergar bem onde os custos estão subindo.
A estratégia de recursos humanos da Microsoft visa a atrair bons funcionários e a mantê-los contentes e produtivos. Não buscamos conscientemente atingir algum nível médio de receita por funcionário.
Em vez disso, prestamos atenção a que porcentagem do faturamento é gasta em grandes categorias de despesas, como pesquisa e desenvolvimento, custos de bens, pessoal e marketing.
Qualquer empresa, mesmo que seja pequena, pode adotar o mesmo enfoque.
Costumo aconselhar os empresários empreendedores e iniciantes a encontrar uma empresa em seu ramo de atuação que lhes sirva como modelo a seguir, e estudar sua declaração de receitas e despesas.
Eu os aconselho a decorar que porcentagem do faturamento dessa empresa é gasta em cada segmento de custos. Depois, devem perguntar a eles mesmos: Posso fazer o mesmo?
É uma abordagem muito mais produtiva do que ficar prestando atenção demais ao faturamento por funcionário.

Pergunta - O aparelho de fax representa uma tecnologia interina, como a máquina de escrever, e vai acabar sendo substituído pelo correio eletrônico? ARGolden@ dechert.com
Resposta - Isso não vai acontecer da noite para o dia, mas é muito provável, sim, que a popularidade do aparelho de fax vá diminuir.
O correio eletrônico é mais rápido e mais flexível do que o fax, além de funcionar para documentos que não estão impressos no papel, ou mesmo que não podem ser impressos. Os PCs muitas vezes são usados para enviar e receber mensagens de fax, eliminando o papel em uma ou nas duas pontas da transmissão.
Mas isso ainda é muito diferente de enviar um documento por correio eletrônico. Um fax é apenas a imagem de uma página impressa. Um documento transmitido eletronicamente confere ao destinatário a possibilidade de buscar, editar ou manipular seu conteúdo.
Apesar disso, porém, usar um PC para enviar fax vai continuar a fazer muito sentido até o dia em que os endereços de correio eletrônico forem tão comuns e corriqueiros quanto os números de fax são hoje.
Pergunta - Eu me formei no colegial e agora sou dono de uma pequena empresa de software, que montei na minha própria casa. Minha meta é ganhar muito dinheiro. Como você nunca chegou a se formar em Harvard, isso me fez perceber ainda mais claramente que a faculdade é uma perda de tempo. Deixando de lado o blablablá para a mídia e o papo de vendas, o que você acha do que estou fazendo? Brian Wiles, Cameron Park, Califórnia (brian@brisoft.com)
Resposta - Você quase certamente está cometendo um erro, a não ser que esteja diante de uma oportunidade muito melhor, hoje, do que imagina que jamais irá se apresentar.
Fico preocupado quando ouço jovens dizendo que não querem fazer faculdade porque eu não me formei na universidade.
Para começo de conversa, fiz um curso muito bom, apesar de não ter ficado na faculdade o tempo necessário para conseguir meu diploma.
Outra coisa a levar em conta é que o mundo está ficando mais competitivo, especializado e complexo a cada ano que passa.
Por isso, hoje é tão importante ter feito faculdade quanto, antigamente, era importante ter feito colegial.
Os anos de faculdade são um ótimo momento para aprender sobre o mundo e passar muito tempo com gente da sua idade. Não é inteligente se trancar num caminho profissional específico antes de conhecer mais das opções possíveis.
Além disso, os anos de faculdade podem ser divertidos. Não há motivo para tanta pressa. Você vai passar muitos anos da vida trabalhando. Por que a pressa para começar?
Adorei os anos que passei na universidade e me arrependi de ter saído, sob vários aspectos.
Só saí porque tinha uma idéia que não podia esperar: fundar a primeira companhia de software para computadores.
Pode parecer ironia -considerando que eu mesmo não me formei-, mas a Microsoft contrata universitários formados para a maioria de seus cargos.
Acreditamos que a maturidade e o aprendizado que a educação universitária proporciona são indispensáveis.
Já constatamos que pessoas formadas em áreas relativas a ciências humanas trazem para o trabalho uma visão de mundo mais ampla.
Eu já disse isso antes e torno a dizer: faça faculdade.

Tradução de Clara Allain.

Cartas para Bill Gates, datilografadas em inglês, devem ser enviadas à Folha, caderno Informática -al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, CEP 01202-900, São Paulo, SP- ou pelo fax (011) 223-1644.

E-mail askbill@microsoft.com

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