São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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FHC opta por base menor

VALDO CRUZ; MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Lideranças afirmam que governo vai 'enxugar' maioria

As derrotas na reforma da Previdência mostraram ao presidente Fernando Henrique Cardoso que sua base parlamentar sofre de uma doença crônica: é e continuará sendo "flutuante".
Quase um mês depois de promover uma reforma ministerial para agradar os aliados, FHC não pôde desfrutar dos 396 votos de deputados que teoricamente atendem pelo título de "governistas".
O painel de votações da Câmara na última quarta-feira, quando o governo amargou três derrotas, não deixa dúvidas. Dos 396 votos "governistas", o presidente chegou à conclusão de que pode esquecer cerca de 60.
Apoio caro
O governo constatou que o apoio deles é difícil ou considerado caro demais para o Planalto.
Os líderes governistas decidiram que não vão mais procurar esses parlamentares -considerados a partir de agora de oposição.
Outra decisão tomada pretende restringir as negociações aos líderes partidários. FHC vetou as conversas individuais ou com bancadas suprapartidárias, como a ruralista.
O novo coordenador político do governo, ministro Luiz Carlos Santos, acha que não há jeito mesmo. "A base flutua", observa.
Mudança de regras
Se a base governista não muda após quase um ano e meio de mandato, melhor mudar as regras do jogo, insistem os fiéis aliados de FHC. A culpa é atribuída ao regimento da Câmara, que permite à minoria pôr à prova a flutuante base do Planalto.
"O regimento é uma aberração", insiste o ministro Luiz Carlos Santos, ao levantar a nova bandeira do governo.
A meta é mudar a regra da apresentação de destaques nas votações de emendas constitucionais. Na Câmara, para aprovar uma emenda constitucional, o governo precisa de 308 votos.
Caso um deputado apresente um destaque para votar em separado uma parte da mesma emenda, o governo precisa conseguir novamente 308 votos para manter a mudança.
Enxugar a maioria
As derrotas da semana passada reforçaram uma idéia defendida pelos aliados de primeira hora de Fernando Henrique.
O PFL e o PSDB aguardam ansiosos o momento de enxugar a base política do governo.
"Ninguém aguenta isso, nem o Brasil nem o governo. Vamos ter que encontrar um meio de governar com uma base reduzida", recomenda o presidente do PSDB -o partido de FHC-, senador Teotonio Vilela Filho (AL).
O plano já foi montado pelos dirigentes tucanos e pefelistas.
Até o final do ano, o governo quer dar por encerrada a etapa das reformas constitucionais (que exigem os votos de três quintos dos deputados e senadores).
Daí para frente, FHC poderia governar com pouco mais de 200 deputados (dos 513) e 40 senadores (dos 81).
Seria a solução para deixar de lado um negócio difícil de administrar -a maioria que ora funciona, ora falha.

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