São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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O Real e o poder local

ALOIZIO MERCADANTE

As eleições municipais de 1996 terão uma agenda local orientada para as propostas concretas para melhorar a qualidade de vida nas cidades. No entanto, as grandes cidades podem contribuir diretamente para a estabilidade da economia, mas terão também que construir novas respostas para amenizar o quadro dramático do desemprego, que já atinge 1,3 milhão de trabalhadores só na Grande São Paulo.
São visíveis os efeitos da política de estabilização baseada no câmbio sobrevalorizado e juros elevadíssimos sobre a produção e o emprego. Em 1995, mais de 10 mil empresas quebraram, recorde de 32 anos, e a agricultura teve queda de safra superior a 13% neste ano.
A tendência à desindustrialização têm-se manifestado em quase todos os países que adotaram a âncora cambial. Os setores mais frágeis tendem a desaparecer e ser substituídos por importados. Os principais setores industriais aumentam significativamente o peso dos importados, como está ocorrendo no automobilístico, de bens de capital e eletroeletrônico, entre outros. Mesmo os setores competitivos perdem mercado externos. Este desequilíbrio estrutural na balança comercial impede que a economia cresça e aumenta o desemprego.
A passagem da âncora cambial para a âncora fiscal é extremamente difícil. Mais complexa é a passagem da estabilização para o desenvolvimento com estabilização. O México e a Argentina, para citar os exemplos mais próximos, não conseguiram.
O poder local pode contribuir ativamente para a estabilidade, por meio da intervenção na comercialização da cesta básica, ou seja, com uma política ativa de abastecimento alimentar e outros produtos essenciais aos setores populares. De outro, as grandes cidades, como São Paulo, precisam amenizar o desemprego com um plano de desenvolvimento econômico. Um plano que promova um clima de confiança e compromisso com o investimento, que gere um ambiente de competitividade e cooperação entre governo, empresários, universidades e sindicatos.
A prefeitura pode oferecer serviços de apoio ao investidor, desde pólos industriais ou de serviços até banco de dados sobre o mercado consumidor. A prefeitura pode priorizar obras sociais que gerem mais emprego, como saneamento e mutirões habitacionais, além de promover políticas de fomento a micro e pequenas empresas, formação de viveiros de empresas para pequenos investidores, banco do povo para a economia informal e formação de cooperativas de produção e consumo, entre outras.
Nessas eleições, mais importante do que constatar que estamos presos em uma armadilha de câmbio e juros que seguram o país, é preciso construir novas e criativas respostas em nível local que apontem para uma moeda forte, mas ancorada no desenvolvimento.

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