São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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Cientista vê globalização

HUSA
DA REPORTAGEM LOCAL

A natação baterá o maior número de recordes na próxima Olimpíada. Mas os EUA terão adversários duros como nunca nas piscinas de Atlanta.
Essa é a opinião do pesquisador norte-americano Vincent Mallette, que lançou nos EUA, na última sexta-feira, o livro "The Science of the Summer Games" (264 págs., Charles River Media, US$ 17,95), sobre ciência e esporte.
Para Mallette, a natação foi o esporte que mais se aproveitou das novas técnicas de recriação e análise de movimentos por computador, inclusive com o uso de realidade virtual.
Mas ele acha que a globalização acabou favorecendo os atletas de países pobres, ao colocar à disposição de qualquer treinador informações sobre pesquisas de ponta.
"Os países ricos vão se surpreender em Atlanta", disse em entrevista exclusiva à Folha. Mallette dirige um laboratório de física na Universidade da Geórgia.

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Folha - Que esportes terão mais ajuda da ciência?
Mallette - Saltos ornamentais e natação. Na natação, há um aperfeiçoamento da braçada, baseado na recriação em computador do movimento do nadador. Há muita pesquisa sobre isso nos EUA.
Espero, ainda, uma melhora na utilização do corpo no ar, o que permitirá completar o salto e entrar na água com menos efeito "splash". A China é a mais avançada nessa pesquisa.
Folha - O sr. espera muitos novos recordes na natação?
Mallette - Sim, e acho que muitos países terão capacidade para isso. Não espero um desempenho tão bom dos EUA como nas últimas Olimpíadas.
Folha - Por que não?
Mallette - Outros países aprenderam truques de treinamento e técnicas de recriação de movimentos em computador. Os alemães têm feito um bom trabalho. Haverá azarões marcando recordes mundiais. Os países ricos vão se surpreender com o desempenho de países mais pobres.
Folha - Mas os países pobres não investem em pesquisa?
Mallette - Muitas das informações técnicas estão ao alcance de todos os países hoje.
Folha - É preciso treinar num país rico para ser competitivo?
Mallette - Depende de quão tecnológico é o esporte. Não há razão para um boxeador cubano treinar nos EUA. Em eventos que permitem pesquisas sofisticadas por computador, porém, convém ao atleta tirar o máximo proveito das oportunidades. Mas o intercâmbio de atletas é comum hoje em dia.
Folha - Que esportes têm menos ajuda da ciência?
Mallette - Esportes coletivos, que privilegiam a intuição e habilidade para o jogo. Não há muita ciência no futebol. O importante é a experiência de cooperação entre os jogadores. O Brasil tem isso. Levantamentos estatísticos por computador, por exemplo, que são usados, ajudam minimamente.
Folha - Que esportes ainda podem desenvolver mais os materiais usados?
Mallette - Não seria difícil melhorar o disco, por exemplo, mas as características de construção são rigidamente estabelecidas. Além disso, o disco é normalmente fornecido pela organização da prova.
Há pouco espaço para melhorar outros materiais. Talvez no salto com vara. No ciclismo, ainda é possível, com bicicletas mais leves e aerodinâmicas.
Folha - Que área de pesquisa tem mais potencial no esporte?
Mallette - Acho que a pesquisa com bebidas tonificantes e com treinos intercalados podem ajudar a melhorar muito os tempos em provas longas de atletismo e ciclismo.
Folha - E em provas curtas?
Mallette - Nos 100 m, há pouco a fazer para melhorar o tempo, exceto com drogas ilegais. O recorde de hoje (9,85s) está bem próximo do limite de um ser humano não dopado.

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