São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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Cientista estuda morte celular em verme

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na revista científica "Science" (270, 931), Michael O. Hengartner, do Laboratório Cold Spring Harbor, nos EUA, descreve pesquisas genéticas, inclusive suas, sobre a morte programada ou apoptose, programa desenvolvido pelos organismos multicelulares que assegura a eliminação das células que se tornaram desnecessárias, que de alguma sorte atrapalham ou que são potencialmente perigosas, sem prejudicar as células vizinhas.
A morte programada é rigidamente controlada, o que é importante porque a falta dessa regulação se associa a cancerização, auto-imunidade e possivelmente doenças neurodegenerativas, segundo acentua Hengartner, que acrescenta que o conhecimento íntimo dos mecanismos da morte programada pode levar à produção de novas terapias contra essas doenças.
Sendo muito complexo o mecanismo da morte programada em mamíferos, Hengartner decidiu apelar para o estudo do processo em animais mais simples e, tanto quanto possível, por meios genéticos.
Escolheu para esse fim o pequenino verme nematédeo (corpo fusiforme ou filiforme) Caenorhabditis elegans, cujo padrão de apoptose já foi inteiramente descrito.
Durante o desenvolvimento hermafrodita desse verme produzem-se 1.090 células, 131 das quais destinadas à apoptose.
Essas mortes são exatamente reproduzidas de um animal a outro, morrendo todas as células em seu ponto crítico de desenvolvimento.
Muitas mutações afetam a morte programada no nematódeo. Domina a morte programada um gene, o "ced-9", diz a teoria de Hengartner.
Este age como regulador negativo e protege as células que não devem morrer.
Aparelhagem
Experiências parecem indicar que todas as células do C. elegans possuem a informação e a aparelhagem necessária para sofrer a morte programada, mas essa atividade costuma ser suprimida pela atividade do gene "ced-9".
A proteína fabricada pelo "ced-9" é muito parecida com o produto do oncogene "bel-2" de mamíferos.
E a função proposta para o "bel-2" em mamíferos é idêntica à proposta para o "ced-9" no C. elegans -evitar que as células sofram morte programada.
Tudo parece indicar que o "bel-2" é homólogo vertebrado do ced-9.
Comenta Hengartner que, sendo provavelmente o mesmo o programa de morte programada de vermes e vertebrados, inclusive o homem, mais uma vez se demonstra, em nível celular e molecular, que a semelhança entre os seres vivos é maior do que se poderia supor em face das distinções morfológicas.

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