São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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Votação é plebiscito sobre futuro de Israel

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

Os pouco mais de 3,9 milhões de israelenses aptos a votar na próxima quarta-feira não participarão de um pleito comum, mas de "um plebiscito sobre o futuro de Israel", no dizer de Binyamin Netanyahu, candidato conservador ao cargo de premiê.
"É uma questão existencial, de vida e morte", diz Herman Branover, da Universidade Ben Gurion.
O voto dos israelenses decidirá os rumos do processo de paz em todo o Oriente Médio, a mais conflituosa região do planeta, antes e depois do fim da Guerra Fria.
Paz é a palavra que mais enche a boca dos dois candidatos, mas o enfoque de cada qual a respeito dela é substancialmente diferente.
Para Shimon Peres, atual premiê e candidato à reeleição, a paz é pré-condição para a segurança de Israel e só virá de fato se e quando o país chegar a um acordo abrangente com a maioria dos países árabes, o que inclui os palestinos.
Já Netanyahu, ou "Bibi", como é mais conhecido, acredita cegamente que a segurança e a força de Israel é que são os fatores determinantes para se obter a paz.
Ou, como prefere seu aliado Dan Meridor, deputado do Likud: "Os países árabes que fizeram a paz com Israel só agiram assim por causa da força de Israel e pela compreensão de que um Israel forte não pode ser varrido do mapa".
Essa divergência de concepções leva a diferentes respostas para grandes desafios imediatos.
O mais premente, pela pressão causada pelos atentados contra alvos israelenses, há dois meses, é o terrorismo dos radicais islâmicos.
Peres acredita que "a solução para o terrorismo é, principalmente, política. Só um acordo político pode resolver o problema". Mais: "A pobreza é o alimento do fundamentalismo".
Em consequência, Peres aceita o estabelecimento de um Estado palestino, que minaria as bases políticas do fundamentalismo e traria, em tese, o desenvolvimento suficiente para reduzir a pobreza.
"Bibi" alega que "o terror foi bem-sucedido nos últimos quatro anos porque o governo forneceu-lhes cidades-santuário, com a ajuda da Autoridade Palestina".
É uma alusão ao fato de que Israel deu autonomia aos palestinos em Gaza (sul) e, bem mais limitada, em cidades da Cisjordânia, nas quais o policiamento está hoje a cargo da Autoridade Palestina.
O candidato conservador promete mudar "as regras do jogo". Diz: "Peres confia em Iasser Arafat para conduzir por nós a guerra contra o terror. Eu confio só nas forças israelenses de defesa".
Um futuro Estado palestino está expressamente vetado na plataforma que o Likud e seus dois aliados conservadores aprovaram para esta eleição. Cláusula similar existia em anteriores plataformas trabalhistas, mas foi retirada em abril.
O que inquieta mais os israelenses é que, seja qual for a conduta mais adequada, não vale para os dias que restam até as eleições, vividos na angústia de um eventual novo atentado.

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