São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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Plataformas possuem pontos comuns

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

No mundo todo, plataformas eleitorais são redigidas de forma a mais genérica possível, de forma a não assustar eventuais eleitores.
Não em Israel: as plataformas que os trabalhistas e o Likud apresentaram deixam claras as divergências, e também coincidências.
As coincidências referem-se, basicamente, a Jerusalém e à questão dos refugiados palestinos.
Tanto o Likud como o trabalhismo cravam Jerusalém como capital indivisível, ao contrário dos palestinos, que pleiteam a fatia oriental como sua própria capital.
No caso dos refugiados, os dois grupos também concordam em negar o chamado "direito de retorno", solicitado pelos palestinos.
É uma alusão à Resolução 194 da ONU (dezembro de 1948, logo após a guerra que Israel travou -e ganhou- com seus vizinhos árabes pela independência).
Diz que "refugiados que queiram voltar para suas casas e viver em paz com seus vizinhos deveriam ter permissão para fazê-lo o mais cedo possível".
Nos quase 40 anos que se seguiram, não só os refugiados não voltaram como seu número aumentou em consequência das outras guerras entre árabes e israelenses.
Hoje, há 3,1 milhões de palestinos espalhados pelo mundo, 2,2 milhões ainda da guerra de 1948. O retorno deles criaria uma situação complicadíssima, é óbvio.
É por isso que um dos principais porta-vozes palestinos, Ahmed Qeria, presidente do Conselho Nacional Palestino, considera a questão dos refugiados como a mais difícil de se resolver nas negociações com Israel.
Está ligada a uma outra questão delicada, que é a das fronteiras exatas que terá ou o Estado palestino, se se chegar a ele, ou os territórios em que vivem os palestinos.
Nesse ponto, Peres e "Bibi" coincidem em defender como fronteira leste de Israel o rio Jordão, que separa o país da Jordânia.
Mas não está claro que áreas da Cisjordânia (o território que fica, grosso modo, entre Israel e o rio) poderão ficar com os palestinos.
Hoje, nos termos dos acordos de Oslo (provisórios), Israel controla 82% da Cisjordânia, embora os palestinos sejam nela majoritários.
"Bibi" promete ampliar ainda mais o número de colônias judaicas nos territórios, ao passo que os trabalhistas anunciam o congelamento de novos assentamentos.
Tudo somado, parece ter razão o jornal "Haaretz", independente, ao dizer que "qualquer um pode discernir diferenças fundamentais entre os partidos, apesar de suas tentativas na campanha de permitir ampla interpretação de suas posições". (CLÓVIS ROSSI)

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