São Paulo, domingo, 2 de junho de 1996
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Economia dá rumo do Oriente Médio

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A derrota de Shimon Peres nas eleições israelenses projetou uma sombra de dúvidas políticas e econômicas na região. A Bolsa israelense despencou, apesar da declaração do banco central israelense de que já tinha pronto um novo plano com medidas voltadas à estabilidade e à progressiva desregulamentação da economia.
Politicamente, é provável que o processo de paz seja mais acidentado. As negociações com os palestinos só podem complicar quando do outro lado da mesa está alguém como Ariel Sharon, que declarava à CNN há poucos dias que Arafat deve ser tratado como criminoso de guerra.
Mas, do ponto de vista econômico, o rumo pode ser outro. Já há interesses significativos em jogo e tudo leva a crer que o projeto de paz na região continuará.
Negócios
Há vários exemplos que seriam impensáveis há alguns anos. Na semana passada o embaixador da Malásia anunciou no Egito estudos de viabilidade para o início de "joint ventures" com o Egito na indústria automobilística e de telecomunicações na região de Suez, além de projetos de dessalinização de água. Esses investimentos podem chegar rapidamente à casa dos US$ 300 milhões.
Jeremy Hanley, ministro inglês de relações exteriores, anunciou uma rodada pela região. Chega ao Líbano nessa segunda-feira e vai depois à Síria, Jordânia, Egito e Marrocos. É uma diplomacia de formiguinha que prepara o terreno de acordos políticos do futuro.
Também na semana passada o Banco Mundial anunciou novos créditos (US$ 50 milhões) ao Líbano para a reconstrução do país.
No caso específico de Israel, além da significativa ajuda americana (que certamente será condicionada à continuação do processo de paz), há um triângulo econômico sendo construído com a Jordânia e a Turquia. A empresa estatal aeronáutica israelense acaba de faturar um projeto de US$ 600 milhões para recauchutagem da esquadrilha turca de jatos F-16. Aviões militares americanos já usam uma base jordaniana para vôos diários rumo ao território iraquiano. A manutenção é israelense.
O fato é que no tabuleiro geopolítico regional os palestinos são peça-chave, mas não são a única. A imprensa internacional já alertava, nos últimos dias, para o novo teatro em que o Egito, a Arábia Saudita e a Síria podem formar um contraponto ao acordo estratégico entre Israel, Jordânia e Turquia.
Fator Rússia
Ou seja, não se trata mais simplesmente de fazer a opção entre guerra e paz, mas sim de identificar novas oportunidades de pacto regional. As peças podem se mover em muito mais direções do que na época da guerra fria.
Talvez a cartada decisiva para o futuro da região seja dada fora dali, em eleições igualmente complicadas que acontecem nos próximos dias na Rússia. Lá também o presidente Clinton fez uma opção clara por um dos candidatos.
Se o apoio de Clinton confirmar o pé frio da eleição israelense e Ieltsin perder, o risco de uma disputa regional insuflada pela indústria militar russa não será desprezível. Os tchetchenos que o digam.

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