São Paulo, domingo, 2 de junho de 1996
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Rabinos planejam erguer novas colônias

CLÓVIS ROSSI

em Londres
O Conselho de Rabinos da Judéia e Samaria (nome que os ortodoxos dão à Cisjordânia) traçou um plano secreto para, no caso de o Likud ganhar as eleições, deslanchar um programa de construção de novas colônias ao longo da chamada Linha Verde.
No outro grande foco de conflitos além das colinas do Golã, as colônias judaicas encravadas em território palestino, o novo premiê pode ver-se ante fatos consumados que também não são exatamente favoráveis à paz.
A Linha Verde é a antiga fronteira decorrente do armistício de 1949, em seguida à guerra da Independência de Israel.
As colônias ficariam além da Linha Verde, em território, portanto, reclamado pelos palestinos.
A idéia é coerente com a promessa eleitoral de "Bibi" de reforçar e ampliar as colônias, para o que serão injetados cerca de US$ 3,7 bilhões. Hoje, há 146.200 colonos judeus na Cisjordânia e mais 5.000 na faixa de Gaza, área sul do território palestino autônomo.
Hebron
A construção de novas colônias seria uma violação aos acordos de Oslo.
Pior: Ben-Yahu Elissar, um dos líderes do Likud, disse à Folha, na véspera da eleição, que o Likud quer transferir para o fim das negociações definitivas com os palestinos a questão de Hebron.
Hebron, cidade sagrada tanto para muçulmanos quanto para judeus, tem 120 mil palestinos cercando quatro colônias com 52 famílias judaicas e é um foco permanente de tensão.
O acordo de Oslo previa a retirada das forças israelenses, indispensáveis para proteger os colonos, em março passado.
Mas o governo trabalhista preferiu adiar a retirada para depois das eleições, realizadas quarta-feira.
Se o Likud, agora, adiar outra vez a retirada das tropas, a tensão na região tende a chegar ao insuportável.
Afinal, Hebron é o segundo centro de atividade do Hamas (Movimento de Resistência Islâmico), depois da faixa de Gaza.
Esse quadro torna até irrelevante a bandeira eleitoral da campanha de Netanyahu, que foi a repetição exaustiva da frase "Peres dividirá Jerusalém", a cidade de 3.000 anos cuja parte Oriental os palestinos reivindicam como sua capital.
Jerusalém é outro dos temas delicados que os acordos de Oslo remeteram para as negociações finais, iniciadas em maio passado, mas congeladas em seguida, por conta das eleições.
Devastação
Da maneira como está o cenário nos outros pontos de divergência, talvez nem se chegue a pôr à mesa o tema Jerusalém.
Afinal, até na moderada mídia jordaniana ecoam os tambores de guerra, como dá prova editorial do jornal "Al Rai", o de maior tiragem do país.
Diz que, ou se avança no processo de paz, tal como foi decidido em Oslo, ou "se estará diante do perigo de devastação, e a região ficará à beira de uma nova era que pode ser mais perigosa do que a anterior".
A anterior, como se sabe, foram quatro guerras entre Israel e seus vizinhos e a intifada (a revolta dos palestinos), sem contar atentados terroristas praticados em quantidade industrial.

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