São Paulo, domingo, 2 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vírus HIV não provoca Aids, diz professor

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Um respeitado professor de biologia molecular da Universidade da Califórnia em Berkeley (Costa Oeste dos EUA), uma das melhores dos Estados Unidos, acaba de lançar seu terceiro livro em defesa de uma tese herética: o vírus HIV não provoca a Aids.
Peter Duesberg diz que seu mais recente trabalho, "Inventing the Aids Virus" ("Inventando o Vírus da Aids", 722 páginas, US$ 29,95), é a súmula de todas as evidências que acumulou para provar que a Aids é uma doença singular, com diferentes causas, talvez uma para cada grupo que a contrai: homens homossexuais, hemofílicos, usuários de drogas intravenosas, mulheres heterossexuais etc.
Seu principal argumento é de que a única evidência da causalidade da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida pelo HIV é o fato de todos os aidéticos serem portadores desse vírus.
Trata-se de uma "inferência epidemiológica" ou "evidência circunstancial" que, segundo ele, é extremamente frágil.
Características
No passado, com base nesse mesmo tipo de evidência, outras enfermidades (como o escorbuto, a pelagra e o beribéri) foram atribuídas à ação de vírus e, com o tempo, provou-se que eles não eram a sua causa. Mais recentemente, afirma Duesberg, o diabetes e a esclerose múltipla também foram atribuídas a causas infecciosas de maneira errada.
Se a Aids fosse provocada por um agente infeccioso, argumenta Duesberg, então a doença deveria ter as cinco características comuns a todas as doenças desse gênero.
Ela deveria se disseminar de maneira aleatória entre os sexos; os sintomas deveriam aparecer em pouco tempo, meses no máximo; deveria ser possível identificar micróbios do HIV ativos e em grande quantidade em todos os casos da doença; as células deveriam morrer além da capacidade do corpo de substituí-las e deveria haver um padrão consistente de sintomas em todos os doentes.
Nenhuma dessas expectativas tem sido observada no caso da Aids. Nos Estados Unidos, na Europa e na América Latina, a incidência é muito maior entre homens do que entre mulheres. O surgimento dos sintomas leva em média dez anos e o vírus é difícil de ser isolado em muitos enfermos.
Além disso, os efeitos diretos do vírus sobre um grupo de células-alvo não é responsável pela imunodeficiência e os sintomas variam de maneira extraordinária entre os pacientes, em especial entre os da África e os dos outros continentes.
Dogmas
Duesberg diz que o clamor da opinião pública para que se identificasse a causa de uma doença tão avassaladora motivou conclusões apressadas e interesses diversos transformaram essas conclusões em dogmas.
Ele acusa os "donos da Aids" de boicotarem o seu trabalho que, diz, é eminentemente científico, inclusive porque faz parte da essência da atividade científica colocar em dúvida teses hegemônicas.
Duesberg diz que apesar de mais de 100 mil documentos científicos e bilhões de dólares em pesquisas, "a hipótese do HIV como agente causador da Aids não conseguiu produzir um só benefício de saúde pública: nem vacina, nem medicamento eficiente, nem prevenção, nem cura, nenhuma vida salva. Não é hora de mudar?".

Texto Anterior: Rabinos planejam erguer novas colônias
Próximo Texto: "Expansão" de grupos de riscos desvia pesquisas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.