São Paulo, domingo, 16 de junho de 1996
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Explosão abala imagem de shoppings

AURELIANO BIANCARELLI; ROGÉRIO SCHLEGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

A confiança de que os shoppings centers são lugares seguros para deixar os filhos foi arranhada com a tragédia do Osasco Plaza Shopping (na Grande São Paulo) na terça-feira.
Como a explosão de gás matou vários adolescentes que usavam o local como ponto de encontro, pais e os próprios jovens pararam para pensar.
"Só entrei porque não tenho onde levar meu filho para brincar", disse a comerciante Raquel Rosa Gomes, 38, que na quinta-feira brincava com Natan, 4, no Iguatemi (zona oeste de SP), o primeiro dos shoppings no país.
"O caso de Osasco mostra que é falsa a imagem de total segurança que os shoppings passam."
A instrumentadora cirúrgica Claudia Ramiro, 36, costuma deixar a filha Luiza, 14, no shopping para passear ou ir ao cinema.
Na quinta-feira, mãe e filhas estavam juntas. "O que ocorreu preocupa porque mostra que acidentes podem acontecer mesmo nos lugares mais seguros", afirma.
Luiza diz que ficou com medo quando viu as imagens da explosão na TV. Mas mãe e filha concordam. "O shopping ainda é a escolha mais segura."
"Foi um arranhão, uma fatalidade em 30 anos de serviços impecáveis", diz Henrique Falzoni, presidente da Associação Brasileira de Shoppings Centers. "O shopping é um oásis de confiança."
A antropóloga Teresa Caldeira acredita que, apesar do desastre de Osasco, "as pessoas continuarão optando pelos locais que acreditam ser mais seguros que a rua."
Teresa é professora das universidades de Campinas (Unicamp) e da Califórnia e dedicou sua tese ao estudo da criminalidade e do medo provocados pela segregação social em São Paulo.
Para ela, shoppings centers e condomínios surgem como "enclaves" nas cidades, onde parte dos moradores acreditam viver "protegidos de assaltos e do incômodo de pedintes e mendigos".
"São espaços limpos, socialmente homogêneos, por isso preferidos pelos jovens de classe média."
Nunca mais
Aqueles que estavam presentes na hora da explosão podem desenvolver um trauma e querer nunca mais passar pelas portas em forma de arco que caracterizam os shoppings do país.
Esse é o caso so cozinheiro Atanailson Alves dos Santos, que trabalhava no Mister Sheik do Osasco Plaza. Ele pretende mudar de profissão e nunca mais chegar perto de um shopping ou de um fogão.
Quem estava longe na hora da explosão exercita a imaginação. "A gente estava olhando para o teto e se perguntando o que seria de nós se ele desabasse", disse a escriturária Cintia de Souza Pavão, 19, que vai ao Iguatemi duas vezes por semana com amigos.
"Foi preciso uma tragédia para ficarmos mais atentas", afirma a colega Andréia Monteiro, 23. "Se aconteceu em Osasco, poderia acontecer aqui", conclui Oswaldo Grimaldi.
(AURELIANO BIANCARELLI E ROGÉRIO SCHLEGEL)

LEIA MAIS sobre a explosão em Osasco da pág. 2 e 3

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