São Paulo, domingo, 16 de junho de 1996
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'Neurose de guerra' atinge sobreviventes

ROGERIO SCHLEGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

Perto de 180 sobreviventes da explosão no Osasco Plaza Shopping devem ficar com trauma semelhante a uma neurose de guerra, se for mantido o padrão de comportamento de ingleses e norte-americanos em tragédias semelhantes.
Segundo a psiquiatra Ligia Montenegro Ito, cerca de 40% das pessoas que passam por situações de grave ameaça à vida desenvolvem o chamado transtorno do estresse pós-traumático.
A vítima da doença revê sem querer cenas do acidente, tem pesadelos com elas e fica em estado de tensão permanente.
Também se sente fragilizada e passa a chorar com facilidade.
Outro sintoma é a chamada esquiva fóbica: o sobrevivente começa a evitar lugares, comportamentos e roupas que lembrem o ocorrido, como o cozinheiro que quer deixar a profissão (leia ao lado).
"São sintomas comuns para todos que passam por acidentes, estupros e assaltos com violência, por exemplo. O normal é que desapareçam sozinhos em cerca de três meses", explica a psiquiatra.
O sobrevivente do shopping deve se preocupar se esses sinais não desaparecerem até agosto.
Ligia Ito diz que o trauma pode atingir também parentes próximos que passaram momentos de grande angústia até saber o que tinha acontecido com as vítimas.
Dificilmente, porém, alguém que só tenha visto cenas do shopping e do resgate dos sobreviventes na TV poderá ter a doença.
Exposição gradual
O Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo montou em 1995 um grupo de estudo e atendimento para as vítimas desse tipo de trauma, ao qual pertence a psiquiatra.
No tratamento, que é gratuito e tem uma fase intensiva com dez sessões (uma por semana), o paciente tem acompanhamento psicológico e é estimulado a se expor gradualmente às situações que passou a evitar.
"Para qualquer medo, a receita é enfrentar de maneira controlada", conta Ligia.
No caso de alguém que passe a temer ir a shoppings, pode-se começar passeando pelo estacionamento. Em outro dia, a pessoa deve entrar e ficar meia hora.
Na próxima visita, o tempo de permanência pode ser de uma hora, e assim por diante.
"O que paciente não pode fazer é simplesmente tomar tranquilizantes", alerta Ligia Ito.
Para a psiquiatra, é normal que as pessoas em geral evitem ir a shoppings no momento. "Mas isso passa logo."

Grupo de apoio do HC: Bip 534-0737, código 404-5032, dias úteis, das 9h às 22h.

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