São Paulo, domingo, 16 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estoque alto leva fábricas a dar prazo

Setor de móveis vende menos

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Fabricantes de móveis, pisos, azulejos e brinquedos acumulam atualmente um volume de estoque que chega a ser o dobro do normal.
Para se livrar do produto encalhado, as indústrias estão centrando fogo na venda em consignação. O comércio recebe o produto e só fatura efetivamente o que é vendido.
Também já esticaram os prazos de pagamento para os revendedores, mantiveram as taxas de juros e ainda estão oferecendo descontos.
"É melhor ter mercadoria no estoque do revendedor do que na própria empresa", diz Marcelo Fruziuele, presidente da Associação das Indústrias do Mobiliário do Estado de São Paulo (Movesp).
Segundo ele, a maioria das indústrias moveleiras está vendendo em consignação, na tentativa de reduzir os estoques.
O setor, que reúne 10 mil empresas no país, deve fechar o primeiro semestre de 1996 com queda 20% nas vendas em relação a igual período do ano passado.
Fundo do poço
As indústrias de móveis têm hoje estoque para um mês, 15 dias acima da média. Esse também é o volume de encalhe dos fabricantes de pisos e azulejos.
"Já batemos no fundo do poço", diz Ademir Lemos, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmicas para Revestimentos (Anfacer), que confirma uma retração nas vendas deste primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado.
O setor, que reúne 118 empresas, ocupa atualmente 82% da capacidade de produção das fábricas e já reduziu ao máximo os volumes fabricados para evitar um acúmulo maior de estoques.
Segundo Lemos, não é possível cortar ainda mais a produção, caso contrário as indústrias vão estar trabalhando com um volume que não cobre seus custos fixos.
Para aliviar o encalhe, o presidente da Anfacer conta que as indústrias decidiram ampliar de 45 para 65 dias o prazo de pagamento para as lojas, com a manutenção das taxas de juros de 3,5% ao mês.
Salvaguardas
O setor de brinquedos, que virou o ano com um encalhe recorde, estimado em US$ 400 milhões, e acumula queda de 50% nas vendas de janeiro a maio deste ano em relação a igual período de 1995, também está concedendo mais prazo de pagamento às revendas.
O objetivo das empresas do setor ao dar mais prazo de pagamento ao comércio é regularizar os estoques que estão acima da média.
Synésio Batista da Costa, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), conta que o prazo hoje é de 150 dias, um mês acima da média registrada no primeiro semestre do ano passado.
"A venda em consignação é uma prática normal", diz Costa. Segundo ele, os fabricantes, que ocupam hoje 42% da capacidade instalada das fábricas, tentam negociar com as lojas a desova de parte dos estoques de produtos antigos em conjunto com os novos lançamentos.
Polêmica
Na avaliação das lojas de brinquedos, a reivindicação dos fabricantes junto ao governo para que ele adote salvaguardas, como, por exemplo, o aumento do Imposto de Importação, para proteger a produção nacional da concorrência dos importados, tem como objetivo valorizar o grande volume de estoques em poder da indústria. É que boa parte das indústrias também trabalha com produtos importados.
"Isso é absolutamente incorreto", diz o presidente da Abrinq. Segundo ele, essa argumentação não tem fundamento porque a criança não gosta de brinquedo que "já passou da época". Além disso, o consumidor hoje não aceita aumentos de preços.

Texto Anterior: Procon de BH quer unir os usuários
Próximo Texto: Clinton, Mindlin e empresários suicidas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.