São Paulo, domingo, 16 de junho de 1996
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Destruição destrutiva

LUIZ GONZAGA BELLUZZO

O BNDES tomou a iniciativa de criar uma linha de financiamento para a exportação de manufaturados. As primeiras informações indicam que os beneficiários serão os setores de bens de consumo que tiveram sua competitividade mais afetada pelas políticas de câmbio e de juros que sustentam o Plano Real.
A existência de um sistema de financiamento às exportações é crucial para quem pretende, de fato, manter ou conquistar mercados. O velho conselheiro Acácio diria que a oferta desses fundos deve ser estável, módica e amparada por instrumentos de seguro. Seria desejável que o BNDES pudesse estender essas facilidades creditícias aos setores ainda mais deprimidos, como o de bens de capital.
Mais importante do que o fogo é a fumaça. A fração construtiva do governo está conseguindo avançar. Opõe-se, como é sabido, à turma destrutiva, para quem a industrialização brasileira foi um equívoco monumental, empurrada artificialmente pelo Estado e à custa de um protecionismo causador de distorções insuportáveis. Para eles, qualquer penitência será suave, desde que sejam purgados esses pecados originais.
Posta a casa em ordem, haverá uma regeneração espontânea da economia de mercado. As forças de longo prazo promoverão a eficiente alocação de recursos em cada momento e ao longo do tempo.
Haverá poupança suficiente para financiar os investimentos, desde que as taxas de juros reais, formadas em mercados financeiros desobstruídos, sejam capazes de exprimir a preferência da comunidade pelo futuro. O crescimento será estável e duradouro e a taxa de desemprego será fixada no seu nível "natural".
A distribuição de renda corresponderá à contribuição efetiva de cada um à formação do produto anual.
Os construtivos já acham, com a modéstia requerida, que uma eventual regressão da atual estrutura industrial pode não ser compensada, nem a curto nem a longo prazos, por uma reestruturação virtuosa, engendrada a partir das forças "naturais" da concorrência.
Haverá destruição, mas não criativa. Os construtivos desconfiam de que as industrializações tardias foram, em essência, produzidas, com maior ou menor sucesso, por projetos nacionais e não infrequentemente contra tendências naturais dos mercados.
Neste sentido, as experiências de industrialização dos tardios, com a possível exceção dos Estados Unidos, foram resultado de políticas deliberadas, exigiram a construção de instituições. São artefatos e, portanto, artificiais.
O presidente Fernando Henrique tem manifestado a intenção de promover o crescimento com estabilidade. Isso vai exigir muito mais do inflação baixa. A questão do financiamento da economia, do desenho de um sistema adequado para sustentar o crescimento, é crucial.
Se alguém quiser descobrir as razões do êxito das economias asiáticas, olhe, por favor, para a organização de suas empresas, mas sobretudo para o papel dos bancos e sistemas de crédito especializado.

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