São Paulo, domingo, 16 de junho de 1996
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Aparências

SÍLVIO LANCELLOTTI

Obviamente, enquanto a bola desliza nos gramados da Eurocopa, nos bastidores do torneio a cartolagem do Velho Continente, unida apenas na aparência, continua a tramar a tomada do trono na Fifa.
Unida apenas na aparência, eu anotei acima. De fato, em vez de aglutinar, o golpe de Estado de 29 de maio, que detonou o império de João Havelange no Comitê Executivo da Fifa, acabou segmentando a Uefa.
Da mesma forma que o suíço Sepp Blatter, secretário-geral da Fifa, adora fofocar por trás de Havelange, agora cabe ao alemão Gerhard Aigner, o secretário-geral da Uefa, costurador do golpe, delirar com o sucesso e brincar de politicagem sem o aval de Lennart Johansson.
Síndrome do cargo. Desespero pelo poder. Aigner sabe que, apesar da vitória de 29 de maio, metade da Uefa talvez prefira um outro candidato, não Johansson, como o opositor de Havelange na eleição de 1998. Por isso, não hesita em cortejar todos os presidenciáveis possíveis e imagináveis.
Três deles são óbvios e naturalíssimos. O italiano Antonio Matarrese, que apenas tolera Johansson e já se declarou, uma vez, traído pelo sueco. O inglês sir Bert Millichip, prestigiadíssimo por causa da excelente organização da Eurocopa. E o alemão Egidius Braun, xodó atual de Aigner.
Maquiavelicamente, o secretário-geral da Uefa aposta no desgaste de Johansson e de Matarrese caso não aconteça, até dezembro, um acordo entre a Coréia do Sul e o Japão para a realização da Copa de 2002.
"Matarrese está preocupadíssimo com a responsabilidade que recebeu e com os riscos gigantescos de um fracasso", observa um assessor do italiano. "Também está irritado com o vaidoso vôo-solo de Aigner."
Claro que, para bater Havelange, a Europa evidentemente vai se recompor. Até lá, porém, o vírus da cizânia com certeza deixará muita gente doente.

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