São Paulo, domingo, 16 de junho de 1996
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Palmeiras já não oferece a expectativa do gol

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A tese é a seguinte: você pode se segurar lá atrás com todos os cuidados do mundo que, nem assim, está garantido.
Pior: jogando atrás, naquela malandragem de esperar a brecha para o bote fatal, na verdade, você está aumentando a margem da derrota, pois oferece campo ao adversário.
Pegue como exemplo esse mesmo Palmeiras veloz e ofensivo do Paulista e o compare com esse outro da Copa do Brasil, nesta fase decisiva.
Um era imbatível, pois sabia-se que, mesmo levando um gol de saída, partiria pra cima do inimigo, sufocando-o com gols sobre gols. O outro caminha num fio de navalha.
Claro que o velho pragmático virá com aquele sorriso esboçado no canto da boca, numa sugestão de que seus olhos já viram o que você jamais verá, e sentenciará: é, mas jogando assim, o Palmeiras está com uma mão na taça. É verdade.
Assim como o Grêmio já meteu as duas mãos na taça várias vezes, jogando assim. Da mesma forma que, também jogando assim, ficou com as mãos vazias, tanto na Copa do Brasil quanto na Libertadores.
O que quero dizer é que, se não há garantia, pelo menos nos ofereçam o prazer da expectativa do gol criado com arte e empenho, mesmo que não venha em cascatas. E não que ele seja uma sombra a pairar na área do acaso.
*
É mais ou menos o que também está acontecendo com a Eurocopa, um espetáculo construído mais sobre a expectativa do que a realização.
Os campos são de matar de inveja; as transmissões, impecáveis; o jogo das torcidas, um encanto. Mas, bola que é bom, ó, deste tamanhinho.
Nem mesmo a Holanda é capaz sequer de reproduzir as idéias arejadas e originais do Ajax, que lhe serve de base.
E a Itália? Bastou elogiar o técnico Arrigo Sacchi e ei-lo fazendo um "imbroglio" no jogo seguinte, contra a República Tcheca: sacou o artilheiro Casiraghi e seu municiador, Zola.
Quando resolveu colocá-los em campo, adeus -2 a 1 para os tchecos.
*
José Teixeira, que assumiu o Santos, é um temperamento tão ameno que usa o modesto plural "nós" quando quer dizer "eu". Apesar disso, foi um precursor de moda que já caiu de moda: o do técnico diplomado em educação física.
Engana-se, porém, quem julgá-lo simplório. E reconto aqui uma historinha, dos tempos em que Sócrates era ainda uma esperança, espécie de Giovanni de um ano atrás.
Pois o presidente Benedini, do Botafogo, dera prioridade do passe de Sócrates ao São Paulo, cujo técnico, Minelli, elaborou o seguinte plano: venderia o médio Chicão para o Corinthians, por 5,5 milhões de cruzeiros; com esse dinheiro, traria de Ribeirão Sócrates e o zagueirão Nei.
Tudo certo, dei a nota na minha coluna de jornal. Teixeira leu e convenceu Matheus a mudar de rumo: os 5 milhões foram direto para Sócrates, que, depois de encher o Corinthians de títulos, acabou sendo negociado com a Itália, por um caminhão de dólares.
Até hoje, Matheus se regozija: "Esse Sóscrati foi o maior negócio da história do Corinthians". Graças a Teixeira.

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