São Paulo, domingo, 16 de junho de 1996
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O Mercosul necessita de um banco

ALIETO A. GUADAGNI

O impacto da abertura comercial e a integração sobre o tráfego de mercadorias nos países do Mercosul fazem com que as exigências do desenvolvimento da infra-estrutura nos países membros sejam hoje de natureza e de magnitude substancialmente distinta das que haviam predominado até agora.
Assim surge uma imperiosa necessidade de interligar os sistemas nacionais de transporte, energia e comunicações em redes que abarquem toda a região, como também de encarar a preservação conjunta dos recursos naturais.
A demanda por novas obras de integração física, não somente no Mercosul como também com os seus recentes parceiros, Bolívia e Chile, implica que as inversões de infra-estrutura sejam no futuro cada vez mais de natureza regional. Relembremos, além disso, que a crise da dívida externa conduziu a uma marcada deterioração da infra-estrutura física do Cone Sul. Os programas de ajuste macroeconômico significaram uma substancial diminuição nas inversões do setor público e os recortes orçamentários prejudicaram a conservação e a manutenção da infra-estrutura.
A partir da aplicação das reformas econômicas, surge no Mercosul uma participação crescente do setor privado, tanto na construção como na operação a próprio risco das obras de infra-estrutura. Dado que a participação ativa da iniciativa privada na modernização e ampliação da infra-estrutura é um fato recente e que existem alguns tipos que são difíceis de desenvolver isoladamente, será indispensável esboçar uma instituição financeira de alcance regional, apta a colaborar com a iniciativa privada, que assuma as novas responsabilidades nesse campo.
Para se ter uma idéia das grandes exigências de recursos financeiros para inversões de natureza regional, podemos sublinhar projetos como:
a) Gasodutos e redes de distribuição nos seis países (Mercosul, Chile e Bolívia).
b) Linhas de transmissão de eletricidade, estações conversoras e obras hidroelétricas.
c) Pontes Buenos Aires-Colônia; Santo Tomé (Corrientes)-São Borja (Rio Grande do Sul); Alvear (Corrientes)-Itaqui (Rio Grande do Sul).
d) Eixo São Paulo-Uruguai-Argentina-Chile e novas vinculações biooceânicas.
e) Túnel de Baixa Altura (Mendoza-Chile).
f) Modernização e ampliação dos portos marítimos no Atlântico e no Pacífico.
g) Novas interconexões ferroviárias, como o Transandino do Sul, que unirá Zapala (Neuquén) com o Pacífico, nova via Cascavel (Paraná) até a fronteira Foz do Iguaçu-Ciudad del Este-Porto Iguaçu (Missões) e a modernização do entroncamento Uruguaiana (Brasil) e Paso de los Libres (Corrientes).
h) Obras na hidrovia Paraguai-Paraná que facilitem a navegação desde o rio da Prata até Corumbá (Brasil) e Puerto Suarez (Bolívia).
i) Obras na hidrovia Tietê/Paraná (represas de navegação em Jupiá e Itaipu) para a navegação livre entre o rio da Prata e São Paulo. Essa nova via fluvial diminuirá em aproximadamente 65% os atuais valores do transporte terrestre, com impacto positivo sobre o desenvolvimento agroindustrial exportador.
j) Projetos regionais para o uso pacífico do espaço exterior.
k) Inversões na preservação do meio ambiente regional.
l) Inversões no pólo turístico internacional do Iguaçu.
m) Interconexão dos sistemas de comunicação.
Tudo isso exigirá financiamento, e para isso é essencial transformar o atual Fonplata (Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata), abrir seu capital a sócios extra-regionais, como o BID e o Banco Europeu de Inversões, e convidar o Chile como parceiro pleno, estreitando assim, ainda mais, sua vinculação com o Mercosul e a Bolívia.
Essa nova instituição poderá captar recursos em excelentes condições nos mercados mundiais de capital. Sua política creditícia não deverá se esgotar nessas importantes questões de infra-estrutura regional, já que também poderá desempenhar um importante papel no financiamento para a transformação e modernização produtiva do Cone Sul para enfrentar o desafio da globalização.

Alieto Aldo Guadagni, 63, é embaixador da Argentina no Brasil. Foi secretário de Estado de Relações Econômicas Internacionais (1991-93) e ministro de Obras Públicas de Buenos Aires (1987-90).

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