São Paulo, domingo, 16 de junho de 1996
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Unidos pelo Brasil

ENIR SEVERINO DA SILVA; LUIZ ANTÔNIO DE MEDEIROS; VICENTE PAULO DA SILVA

O que nos move não é o egoísmo, mas a generosidade. Não é o oportunismo, mas a oportunidade
ENIR SEVERINO DA SILVA, LUIZ ANTÔNIO DE MEDEIROS e VICENTE PAULO DA SILVA
O Brasil precisa parar, ainda que por um dia, para que todos possamos trabalhar, porque algo de muito grave está acontecendo, e é por isso que as três centrais sindicais do nosso país estão unidas. Apesar de nossas democráticas divergências, estamos de acordo quanto à falta de sensibilidade, à inoperância do governo para com as questões sociais e quanto às terríveis consequências da política econômica, baseada no câmbio supervalorizado, nos altíssimos juros, no atendimento prioritário aos problemas do setor financeiro e na âncora salarial.
É por isso que estamos unidos. E unidos com a maior transparência. Não se trata de uma união oportunista como a que os partidos políticos sem consequência fazem, tão-somente para chegar ao poder e dividir seus interesses. Estamos unidos por um só interesse: melhorar o presente dos que sofrem e garantir o futuro para a próxima geração. O que nos move não é o egoísmo, mas a generosidade. Não é o oportunismo, mas a oportunidade. Não é a crítica inconsequente, mas a proposta, inclusive de negociação. Uma negociação honesta e firme, verdadeira -não a conversa falsa, enganadora e mistificadora, para a platéia.
O resultado mais cruel dessa política econômica insensata e desastrosa, que recebe críticas não só entre nós, mas também em outras partes do mundo, tem sido o desemprego em massa, o achatamento salarial, a pauperização de amplos segmentos da sociedade, o abandono dos desassistidos, a permanente ameaça aos direitos dos trabalhadores, a tensão social e o crime na cidade e no campo (pela absoluta falta de uma política agrária e agrícola).
Temos projetos, entre outros, para as reformas agrária, da Previdência, tributária e fiscal. Todos esses projetos, como não poderia deixar de ser, têm como base a reversão de benefícios para os menos favorecidos, eternamente à espera daquele famoso resgate da "dívida social". Uma dívida que sempre se promete pagar, em épocas de campanha eleitoral, e nunca se paga. Quando se candidatou, aliás, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso ergueu a mão direita espalmada e anunciou que estava na mão do povo, "na mão da gente", eleger um programa de compromisso social.
As promessas da mão espalmada foram esquecidas. Por isso continua na mão do povo, na mão da gente, exigir o resgate dessa imensa dívida social.
A inflação, ninguém nega, está sob relativo controle (mas até quando?) e o real é uma moeda estável, o que todos queremos. Mas só o real não basta: queremos emprego, queremos uma política social de emergência, queremos redução de jornada para 40 horas semanais, sem redução de salários. Queremos a reforma agrária, com assentamento das famílias sem terra, com política agrícola e de crédito capaz de fixá-las em suas propriedades.
Queremos salários justos, queremos uma aposentadoria digna e a melhoria do poder aquisitivo dos aposentados, com o fim dos privilégios, principalmente dos juízes e parlamentares. Queremos a manutenção dos direitos dos trabalhadores -modernizar as relações capital/trabalho não significa destruir os sindicatos e avançar sobre conquistas históricas dos trabalhadores.
Consideramos que o governo deve eleger prioridades, consultando diretamente as organizações democráticas da sociedade civil comprometidas com as causas populares.
Respeitamos os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Entretanto não podem permanecer o jogo de interesses, o tráfico de influências, as negociatas, enfim, a falta de compromisso com a soberania e a cidadania. Esperamos das pessoas de bem, envolvidas em tais Poderes, o apoio necessário para fazer valer nossas propostas, visando avançar com as mudanças necessárias, inclusive tendo a sociedade como controladora dos três Poderes.
Portanto, convocamos todos os trabalhadores e todos os segmentos da sociedade para participar dessa greve geral, que tem um significado histórico pela unidade e pela justeza das reivindicações.
Acorda, Brasil! No dia 21, não vá ao trabalho, participe das manifestações onde for possível. Vamos parar para que todos possam trabalhar.
Com esse gesto, queremos resgatar a dignidade do povo brasileiro, dignificar o nosso país e fortalecer a nossa esperança de um Brasil forte e socialmente justo.

Enir Severino da Silva, 49, é presidente nacional da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT).

Luiz Antônio de Medeiros, 48, é presidente nacional da Força Sindical.

Vicente Paulo da Silva, 40, é presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

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