São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FHC pretende mudar perfil do governo

VALDO CRUZ; FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após as eleições, tucano quer sua administração na etapa da "fazeção" e menor dependência dos partidos

O presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) tem dito a seus ministros e principais assessores que iniciará uma segunda fase do seu governo depois das eleições municipais de 3 de outubro.
Essa segunda fase seria caracterizada por duas mudanças principais: um novo ministério seria montado e os ministros teriam perfis mais de executores.
Para definir como serão seus dois últimos anos, o governo FHC já criou até um neologismo: será a fase da "fazeção".
Na visão de FHC, 97 e 98 serão anos de muitas obras concretas, cujo resultado poderá ser visto de forma mais clara pelos eleitores.
O pano de fundo de tudo isso é consolidar o governo tucano e pavimentar o caminho para uma eventual reeleição de FHC.
Apesar de não admitir oficialmente, o Palácio do Planalto já trabalha com a hipótese de não conseguir aprovar as três últimas reformas constitucionais: previdenciária, administrativa e tributária.
Nesse caso, o governo vai cortar ainda mais as despesas em 97 e acelerar a privatização visando equilibrar as contas públicas.
O presidente tem se mostrado mais otimista do que permite a situação atual da economia. A seus assessores diz estar seguro da retomada do crescimento do país.
O único temor do governo FHC ultimamente atende pelo nome de Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
A Folha entrevistou quatro ministros e vários assessores próximos ao presidente na semana passada. Falaram todos na condição de não terem seus nomes revelados. A seguir, um resumo do que pensa a alta cúpula tucana sobre os principais temas que dominam a cena brasiliense no momento:
*
REFORMA MINISTERIAL - O presidente vai mudar o seu ministério depois das eleições municipais. FHC vai procurar executores. Ele quer ver os ministros fazendo alguma coisa e os resultados concretos aparecendo. Por isso, assessores já dizem que será a fase da "fazeção" do governo.
A montagem do ministério da segunda etapa tucana deixará de lado a necessidade de composição com muitos partidos. Abandona-se também a idéia de agradar os amigos e fiéis escudeiros.
O tamanho da reforma ministerial dependerá dos quadros disponíveis. Quando algum assessor mais próximo sugere ao presidente a troca de algum ministro, o presidente costuma perguntar: "E quem eu vou colocar no lugar?".
Em duas trocas recentes de ministros, Fernando Henrique deu a impressão de estar satisfeito com os resultados iniciais -Francisco Dornelles (Indústria e Comércio) e Antonio Kandir (Planejamento).
Para ambos, FHC já escolheu rótulos que pertencem à tal fase da "fazeção" da qual falam os tucanos. Dornelles é o "ministro da iniciativa privada". E Kandir, o "ministro do desenvolvimento".
REFORMAS - Assessores de FHC dizem que, sem mudança nas regras dos DVS (destaques para votação em separado), não dá para aprovar mais nenhuma reforma constitucional neste governo.
Por meio do DVS, a oposição consegue colocar em votação novamente parte de uma emenda constitucional já aprovada em plenário por 308 deputados.
Para apresentar um DVS, um deputado precisa reunir apenas 51 assinaturas. Para derrubá-lo, o governo precisa reunir de novo 308 votos. No Planalto, o DVS é chamado de "ditadura da minoria".
Apesar do pessimismo dos ministros, FHC acredita que ainda é possível aprovar até o final do ano as reformas previdenciária, administrativa e tributária.
Mas já ensaia um discurso na eventualidade de um fracasso. Ele costuma dizer que sempre criticou a equipe econômica por ter passado a idéia de que, sem as reformas, o Plano Real fracassaria.
REELEIÇÃO - Grande parte do governo se convenceu de que discutir o tema agora apenas tumultua. FHC continua dizendo que prefere encaminhar a questão em 97. Um que continuará pressionando é o ministro das Comunicações, Sérgio Motta (PSDB).
O presidente da Câmara dos Deputados, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), sempre toca no assunto quando conversa com FHC.
No Palácio do Planalto, a informação é que Luís Eduardo quer deixar o comando da Câmara, no final do ano, quando se encerra sua gestão, com a emenda da reeleição aprovada nas comissões, pronta para ir ao plenário.

Texto Anterior: Alterar Regimento é prioridade de FHC
Próximo Texto: Planalto teme que conflito no campo afete eleição
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.