São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 1996
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Abaixo a diferença

JUCA KFOURI

O atacante inglês recebe em completo impedimento e seu gol é validado com precisão suíça. A bola romena entra quase um metro na meta búlgara e o gol não é dado. O cotovelo escocês na linha fatal impede o tento holandês e o pênalti não é marcado. O atacante russo é derrubado pelo goleiro alemão e o jogo segue.
Mais uma vez e como sempre que acompanhamos atentamente um torneio internacional, os erros de arbitragem se sucedem. Tem sido assim desde que o futebol é futebol, ou melhor, desde que a TV se aparelhou para mostrar o que o olho humano nem sempre é capaz de captar no ato em que o lance acontece.
Mais uma prova de que a arbitragem não é um problema nacional, mas, sim, uma impossibilidade prática diante do progresso eletrônico.
A grande diferença entre lá e cá é que, lá, não se desconfia de haver má intenção nos equívocos.
A única solução é sabida: adotar os mesmos métodos da eletrônica para dirimir dúvidas, medida que pode alterar o ritmo dos jogos e, sobretudo, acabar com a polêmica que alimenta a paixão pelo jogo.
Por enquanto, o melhor mesmo é adotar aquela sábia postura de considerar que os erros dos árbitros fazem parte do jogo, como os dos goleiros, defensores e atacantes.
E vigiar os emissários e suas malas pretas, mandando-os para a cadeia quando desmascarados, coisa que se nem a Justiça maior quer fazer no Brasil, que dirá a tal da Justiça esportiva. De novo, eis a diferença entre lá e cá.
*
A série de reportagens que Humberto Saccomandi vem publicando nesta Folha sobre outras diferenças entre lá e cá, em relação ao que o futebol recebe da TV, é exemplar.
Por seu intermédio, ficamos sabendo que o nosso futebol tetracampeão vale 21 vezes menos que o tri italiano, por exemplo, e menos ainda que o aborrecido futebol inglês, Gascoigne à parte. E que transmitimos três vezes mais jogos aqui do que lá.
As reportagens não sugerem nada, apenas mostram aquilo que, para bom entendedor, é mais que suficiente.
Diferenças tão estapafúrdias têm a ver com o que chamamos de "por fora", ou "caixa 2", e estão na origem da riqueza de nossos cartolas "amadores".
E tem a ver, também, com a nenhuma liberdade editorial das nossas TVs no tratamento jornalístico dados a esses mesmos cartolas, "sócios" nas empreitadas.

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