São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 1996
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Fazenda revive tradição do século passado

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DO ENVIADO ESPECIAL

Um dia na fazenda do Barreiro é quase uma volta ao passado. O dono, Laelio Bianchini, mantém a mesma casa de pedra erguida há quase 200 anos, uma marca da ocupação de Lages pelos tropeiros.
Bianchini, 55, revive a tradição todos os anos, com a cavalgada pelo roteiro das tropas, de 200 km, que o turista mais aventureiro pode se arriscar a acompanhar. Os pousos são em fazendas. Neste ano, os planos são de ir até Sorocaba (SP), para refazer toda a rota.
Na fazenda, um museu guarda peças do século 19 e até uma carta, com 150 anos, retirada das paredes de uma das primeiras casas.
O clima bucólico começa na chegada: é preciso atravessar um rio de carro. Se ele estiver cheio, o acesso é a pé, por ponte suspensa. À noite, a temperatura cai, e todos se refugiam em volta da lareira.
Joacir Borges, 35, o "Vacaria", se encarrega dos shows de chula, com o uso de espadas e fogo.
A comida vem depois, em um galpão de madeira, decorado com peças antigas. Em seguida, é hora das cantorias no fogo de chão.
Por ser afastada de Lages, a fazenda teve mais sucesso em conservar o ambiente.
Gralhas-azuis, veados, capivaras e grachains (um tipo de gato selvagem) cruzam as trilhas ecológicas.
Culinária
O descendente de italianos Achyles Marin, 71, deixou seus nove supermercados para passar o dia com turistas, na minifábrica de licor que construiu na fazenda Asa Verde, a 7 km de Lages.
O cardápio, mais leve que em outras fazendas, mistura a cozinha regional com a italiana.
Além das massas, Marin faz licores com quase uma dezena de frutas e também doces artesanais.
O programa da fazenda traz pescarias nos açudes e rios próximos e os passeios de teleférico -comuns nas fazendas- e de canoa.
Agrotóxico não chega às frutas -que também servem para os licores- e verduras produzidas.
A pouco mais de cem metros do rio ficam os chalés, em locais isolados, que podem servir a famílias inteiras.
Hóspedes Os primeiros "hóspedes" da fazenda Boqueirão foram amigos do casal Adriana Gamborgi, filha do dono, e Rogério Lebarbenchon, então surfista, que estudavam e moravam em Florianópolis.
Grupos iam passar os fins-de-semana na fazenda. O jeito de receber foi adaptar o local para comportar a todos, hoje um misto de criação de gado e hotel.
"É quase como antes. Não temos a preocupação, por exemplo, de controlar o uso do bar", diz Lebarbenchon, que ainda dá suas escapadas para pegar ondas no litoral sul.
Localizada a oito km do centro de Lages, a fazenda Boqueirão é a mais sofisticada da região, com 13 suítes. Todas as instalações lembram um grande barco, fórmula encontrada para evitar que os hóspedes passem frio. Dos quartos ao restaurante, passando pelo salão de baile, tudo é interligado.
Pescarias em açudes, rios e represas, passeios em charretes e as "lidas" com o gado completam as atividades do local. A cozinha, típica, só usa panelas de barro e fogão a lenha, inevitáveis em Lages.
(JEC)

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