São Paulo, terça-feira, 18 de junho de 1996
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A privatização ganha eficiência

LUÍS NASSIF

A coluna não dispõe de informações precisas sobre as razões que levaram Elena Landau a se demitir da condução do processo de privatização.
Mas, seguramente, faltava a dona Elena pique operacional para conduzir o processo -o que deixava o BNDES permanentemente à mercê da habilidade dos operadores financeiros.
Dona Elena não dispunha de malícia de mercado para montagem de estratégias mais sofisticadas de vendas de estatais.
Fazia tudo de acordo com o manual -embora com a maior competência. Passo 1: avaliar as empresas. Passo 2: marcar a data do leilão. Passo 3: bater o martelo e comemorar.
Mas não era o suficiente. Processos de vendas de empresas são operações complexas, ainda mais quando estão na ponta compradora algumas das principais águias do mercado financeiro.
Caso Light
O episódio Light foi significativo. Produziu-se uma avaliação que poderia estar superestimando o preço da companhia. Por que superestimando? Porque havia riscos de não aparecerem compradores.
Ora, preço é razão de taxa de retorno, mas também de disputa. Pode-se viabilizar vendas melhorando preços ou mantendo os preços e tratando de aumentar o número de compradores.
O manual de dona Elena não contemplava essas hipóteses. Como boa mente cartesiana, era tudo pão, pão, queijo, queijo.
Enquanto havia número restrito de investidores, o mercado jogava pesado. Chorava preço, fazia acordos para melar leilões, aguardando a cada nova rodada nova redução dos preços. Sob o comando de Elena, o BNDES tinha papel passivo na operação.
Jogo rápido
O jogo virou em razão da interferência direta do novo presidente do banco, Luiz Carlos Mendonça de Barros, também velha raposa do mercado.
As operadoras externas hesitavam em entrar na privatização pela falta de definição das regras de jogo -especialmente as regras de correção de tarifas.
Em curto espaço de tempo, conseguiu-se que o inabalável ministro das Minas e Energia deliberasse sobre a questão, feito heróico. Com o trunfo na mão, foi fácil convencer a francesa EDF a entrar na compra.
De sua parte, o BNDES ajudou a adquirir o bloco comprador, lucrando duas vezes.
Na primeira, impedindo que o leilão falhasse -o que provocaria nova queda nos preços da Light. Na segunda, dispondo de um lote de ações de valorização certa assim que a nova gestão produzir os primeiros frutos na recuperação da companhia.
Sob dona Elena, jamais o BNDES teria conseguido reverter esse jogo.
Que crise?
É curiosa a colocação do presidente da República a interlocutores recentes invocando as últimas estatísticas para demonstrar que a economia está saindo da crise.
Como, saindo? Se, daqui a alguns anos, algum cronista desavisado resolvesse reconstituir a economia do período -a partir de declarações do presidente e de seu ministro da Fazenda-, constataria, surpreso, que a economia começou a sair da crise sem jamais nela ter entrado.
Ambos jamais admitiram o óbvio.

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