São Paulo, terça-feira, 18 de junho de 1996
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Sobre o zen e a arte dos contra-ataques

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, do ponto de vista psicológico, o empate obtido pelo Palmeiras lá no Mineirão, teve a sua utilidade.
Garantiu um saldo positivo a ser administrado amanhã à noite, em seu domicílio.
Mas, pelo visto, o alviverde está sentido falta da leitura do livro " O Zen e a Arte dos Contra-ataques".
O zen, você já sabe, é ele mesmo, o Muller, que representava o caminho, o equilíbrio, a harmonia.
Com ele, o ataque do Palmeiras tinha uma sabedoria superior, aquela mesmo que era tão importante quanto os treinos guerreiros de um samurai.
Sem ele... bem, vamos ver.
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Redondo no São Paulo. Quem já teve Falcão, nunca perde o desejo de majestade.
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O futebol sedutor de Don Giovanni tem charme suficiente para conquistar a bela e envolvente Catalunha.
O futebol espanhol, mais do que o italiano, é o lugar ideal para a sua arte clássica (explico: o futebol espanhol dá mais espaço para um jogador dominar a bola e tentar a jogada individual -que um jogador como Giovanni justifica. O próprio Barça, de Cruyff, era um time cadenciado, de muito toque de bola).
Entre Mirós e Picassos, Don Giovanni encontrará a "rambla" ideal para desfilar entre seus pares artísticos.
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No momento em que Carlos Alberto Parreira assume a direção técnica do São Paulo, vale a pena lembrar que este time deve grande parte do seu esplendor recente ao técnico Telê Santana.
O mesmo Telê que, no domingo, nesta Folha, escreveu um texto corajoso e humano sobre a depressão.
Em algumas profissões, a ação é tudo. Caso do guerreiros. E do esportista. Como viver sem aquilo que nos anima?
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Vendo as finais da NBA, eu, que não sou especialista, fico encantado com o show -mix de coreografia, malabarismo e habilidade- que os afro-americanos, para utilizar a versão PC, conseguem fazer com uma simples bola de basquete.
O século 20 será lembrado, entre outras coisas, como o século em que o negro, por meio de várias manifestações culturais, tornou-se sujeito -e não só objeto- da história.
Ella Fitzgerald fez história. Será uma das vozes do século. Do trio, Sarah, Billie e ela, Ella era a mais suave e mais universal. Talvez fosse mais completa do que as outras duas, mas esta discussão é acadêmica, e o nosso desespero não.
Enquanto houver, nos EUA, um garoto negro dormindo abraçado a uma bola de basquete, ou, no Brasil, um pé descalço sobre a terra batida correndo atrás de uma outra bola, e, enquanto houver um disco, que também é uma bola, de Ella rolando na minha vitrola, eu não poderei deixar de considerar que haverá um lugar onde tudo valerá a pena.
Se nenhum jogo de futebol no Brasil parou para conceder um minuto de silêncio a Ella Fitzgerald, esta coluna, que acredita que esporte e música são manifestações diferentes do mesmo fenômeno, está reparando o nosso erro.
Psiu, silêncio, por favor. E por fervor.

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