São Paulo, terça-feira, 18 de junho de 1996
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QUALIDADE COM SEGURANÇA

Os dicionários ensinam que a palavra "acidente" significa acontecimento fortuito, casual ou imprevisto. Mas, quando se trata de acidente de trabalho, as estatísticas sugerem que o fenômeno nada tem de casual.
O número de mortos cresceu 26,78% no ano passado. E a legislação, ao garantir estabilidade por um ano ao trabalhador que ficar mais de 15 dias em licença após um acidente, leva os maus empresários a sonegarem informações sobre o assunto.
O Brasil tem um índice de mortos por acidentes quase igual ao da Nicarágua e dez vezes maior do que o dos EUA. Ou seja, há dois males acontecendo ao mesmo tempo. De um lado, a estatística distorcida que, para um observador ou mesmo investidor estrangeiro, assusta. De outro, a realidade ainda mais amarga de que o número de acidentes é certamente muito maior do que o registrado nas estatísticas oficiais.
Segundo o próprio secretário de Segurança e Saúde no Trabalho do Ministério do Trabalho a realidade é pior do que os números. Além disso, segundo o governo, subiram as notificações de doenças do trabalho nos últimos quatro anos.
Teoricamente, o número de acidentes tende a cair com o desenvolvimento econômico. No Brasil, portanto, era de esperar que houvesse uma melhora. Entretanto, é sabido também que muitos acidentes resultam da falta de capacitação e mesmo de treinamento para a operação com equipamento ou em condições que oferecem riscos.
Fala-se muito atualmente em programas de qualidade e produtividade, mas é preciso entender que reduzir os acidentes de trabalho é melhorar qualidade tanto quanto investir em novos equipamentos ou na criação de novos produtos.
A qualidade não será fruto do acaso, e o descuido sistemático com a segurança no trabalho pode ser uma fonte importante de queda na produtividade. A qualidade de vida do trabalhador é uma condição para um processo produtivo eficiente.

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